Sobre a ferida, uma casquinha. A tentação de retirá-la é maior do que a quietude de deixar o ferimento se curar. Com tão pouco tempo, podemos nos advertir o quanto quisermos de que aquele ferimento irá sangrar, doer, ficar exposto por mais tempo. Mesmo assim, arrancamo-lo a cobertura sem piedade.
Ainda não entendo essa teimosia, da qual compartilho sem a menor dor nas consciência, apesar de reconhecer o erro. Enquanto limpo cuidadosamente o sanguinho que escorre, penso em quantas coisas poderíamos evitar se a casquinha ficasse quietinha lá, no lugarzinho dela. Inflamadas discussões e desentendimentos seriam evitados, mal-entendidos seriam sanados, dores e desamores amenizados.
Mas não, que é isso? Gostamos de casquinhas saltadas e do sangue correndo. De ver o circo pegar fogo enquanto o palhaço chora em esguichos, tentando apagar o incêndio. Do acidente que acaba de acontecer, da briga que explode, da situação extrema. Tenho pensado muito nisso e tentado entrar numa outra sintonia, a da paz a qualquer custo.
Não que eu vá fazer qualquer coisa pra ter paz, mas estou disposto hoje a reivindicar a qualquer bem pela minha paz. Renuncio ao amor, ao prazer, à paixão por estar em paz. Aprendi com Roberta Tavares, grande amiga e companheira, que nada paga a nossa paz, estar tranqüilo consigo e com o mundo. Mesmo que isso custe um grande amor, uma paixão enlouquecedora ou uma conquista aparentemente mirabolante.
Deixo as tentações de lado e busco a tranqüilidade. A casquinha que repousa e tranqüila cura o ferimento aberto. É dela que eu sinto saudades...