Frio

Trilho meu caminho em passos curtos, debaixo de uma garoa fina que espalha sobre meu rosto um orvalhar incômodo. Aos poucos as gotas que escorrem rasgam meu rosto como lágrimas que não são minhas, lágrimas que não tenho. Frio que invade as frestas da minha roupa e regelam aos poucos minhas mãos, não adianta blusa, esse frio vem de longe, porém não consegue chegar ao coração. É o frio que expulso a vassouradas bem dadas, com boas risadas e abraços apertados. Quando ele chega, sorrateiro, sem aviso, sem porquê, traz consigo um amargo que não consigo aceitar, traz um cinza que meus olhos não se acostumaram ainda.

Por outro lado, o frio traz o calor dos corpos mais próximos, a vontade insana de sentir o arfar quente de alguém bem perto, seja num abraço no meio da praça, seja debaixo dos lençóis em toques, sussurros, beijos e carícias. Do chá quente, de chocolate quente, da sopinha de feijão vem o calor de fora, que briga com o frio. De dentro, do coração e do desejo, vem o fervor que sublima a pele, que se espalha e explode num universo de sensações.