"... é uma coisa da sua criança interior. Minha criança interior tá tão feliz com esse macaco de brinquedo tão feio..."
(Roberta Tavares, 11.06.07)
A criança se aproxima, oferece chicletes. Diálogo rápido, na esquina da Augusta com a Luis Coelho, dois amigos que tomam cerveja. Ela, abraçada a um macaco de pelúcia que acabara de comprar, pois precisava apaziguar a criança interior que existe dentro dela. Enquanto fuça nos bolsos por moedinhas para dar ao menino, ela explica que "você tem que cuidadar do seu menino, pois apenas você sabe o que ele quer". Sai do bolso mais do que o valor do chiclete, ela diz "não precisa do chiclete". Ele insiste, ela constata que ele precisa vender a caixa, senão não vai pra casa. O amigo apenas observa, dando uma ou outra opinião, concordando, achando o máximo a história da criança interior. E o menino olha apaixonado para o macaco.
Ela passa o macaco feio de pelúcia e arames para o menino. Ele brinca, com o macaco e seu elástico preso a cabeça. Faz o macaco pular, dar saltos, giros e se diverte. Os olhares dos amigos se cruzam por entre as garrafas de cerveja. Ela pede, gracejando: "Dá um nome pro macaco". Ele responde "pode ser Messias, é o nome do meu irmãozinho". "E qual seu nome" ela pergunta, já com o chiclete nas mão, passando um para o amigo, ainda tímido diante da cena. Ele "Gregory da Flor de Melo". Olha que bonito, dizem os amigos em uníssono, e ela diz "Então posso chamar o macaco de Greg, pra eu lembrar de você". Ele não concorda, encosta a cabeça na cabeça do macaco e dá outra sugestão: "Pode ser Gregory Messias da Flor de Melo", sem esquecer do irmãozinho.
"Pega pra você, o macaco" diz ela, com voz doce. Os olhos do menino brilham, sem entender ele pergunta "De verdade?", como quem já não acredita na vida como deveria acreditar uma criança. O amigo, bobo pelo gesto da amiga que tanto se alegrara com a pechincha do macaco de sua infância, olha espantado, com olhos já marejados. Ela diz "claro, você promete que vai cuidar dele?" Ele balança a cabeça afirmando, e completa: "Vou dormir com ele hoje". E sai, numa felicidade que toda criança merece ter, todos os dias enquanto se é criança.
(Isso aconteceu há menos de 3 horas. Roberta, por isso e por tudo, te amo cada vez mais.)