Descrevo para vocês agora como está minha sala de estar, ou melhor, minha visão da sala de estar:
Na frente do notebook, sobre a mesa posta com toalha que minha mãe deixou que eu
troxesse para meu apê, com um saquinho de farofa pronta à minha direita, dois dicionários com muitas e muitas folhas entre eles, um texto do Freud que estou traduzindo pro curso de tradução sobre id, ego e superego, isqueiro, guardanapos e cinzeiro estratégicamente distribuídos. Mais adiante a mesa do PC, com o PC ligado baixando músicas e filmes, onde até há pouco meu amigo Marquinhos me ajudava com sincronização e tradução de legendas de um filme que adoro (Amor em Pensamento, com Daniel Brühl, o mesmo de Adeus, Lênin! e Os Educadores.) e nessa mesa há três copos sujos, uma cigarreira, dois isqueiros e um chocolate aberto quase no fim. Cadeira, tênis e afins, espalhados.
No meio dessa visão do inferno, entre uma levantadinha para traduzir filme, um cigarrinho aceso e a digitação deste post me veio à mente uma característica que me pega, na indecisão, se é boa ou ruim: superatividade. Não consigo fazer apenas uma coisa por vez, como as boas regras da sanidade indicam, mas sempre estou com cinco coisas à mão, fazendo todas e tentando, como um equilibrista, não deixar tombar nenhuma. E às vezes deixo despencar várias.
Muitas vezes não queria ser assim. Queria ter a calma de muitas pessoas que conseguem fazer uma coisa de cada vez, nada de assoviar, chupar cana e bater palmas ao mesmo tempo. Minha cabeça é um multiprocessador de informações, estou sempre à caça de novidades, leio desesperadamente, me atento a tecnologias e invento motivos para sempre estar enlouquecido. Não tenho tido tempo pra arrumar a casa, nem para botar ordem nos livros, muito menos para dar aquela descansadinha depois do trabalho. Sou notívago, costumo acordar (digo, despertar para o mundo), depois das 4 da tarde. Antes disso sou um zumbi, desde às 9 da manhã, deixando o mundo me levar em seu turbilhão enlouquecido. Só começo a nadar contra a maré depois das 16 horas, e sinto muito se algo der errado.
Daí, 1h16 da manhã, me resta escrever no blog, pois o sono não vem. Todo o sono foi distribuído em pescadas no trabalho, em preguiça ao perambular pelas ruas do centro de São Paulo e nas paradelas para fumar um cigarro no meio do expediente. Depois ainda tomarei um banho, ligarei o rádio para me embalar no sono e lerei umas 5 ou 6 páginas do livro que está na minha cabeceira. Quando dormir, terei a impressão que meus olhos se fecharam por 2 minutos e voltaram a abrir, porém dormirei umas 6 horas. E o cotidiano me engolirá novamente, sem a mínima piedade. Como diria uma amiga minha, "a vida é isso, não passa disso".
(Pequeno desabafo num dia frio de setembro.)