Começo e fim


— Qual a distância entre o primeiro beijo e o adeus? - perguntou a menina para a mãe que salteava o arroz com alho distraída.
— Que é isso, garota? Deu pra falar difícil agora?
— É sério mãe. Antes de dar meu primeiro beijo, preciso saber o tempo que leva para tudo acabar.
— Ai, ai, ai - disse a mãe, abaixando o fogo do arroz para depois colocar a água e encher a casa com o aroma de comida fresca - Não sei Juliana. Pode não acabar nunca, veja eu e seu pai...
— Mãe, você e o pai não são mais apaixonados. Acabou. Vivem juntos, dormem juntos...
— E quem disse isso?
— Você disse para a tia Amélia e ela contou para a Vanessa que me contou.

E a menina nesse momento esperou um pito, até um tapa na cara. Mas o choro da mãe veio convulso, junto com o tilintar da colher no piso frio. Juliana não pensava que o caso era tão grave a ponto de fazer a mãe chorar. Tentou consolá-la, pediu para se acalmar. E o choro não parava, era doído e fundo aquele choro, quase um ganido estendido por anos de sofrimento. E a saudade do primeiro beijo e a certeza do adeus ficaram mais fortes a partir daquele instante...

(Momento de inspiração na terra do chucrute, como diria Laura Fuentes. Algo que pairava pelo ar frio da Alemanha e pousou aqui no meu computador.)