Petit mort

... em becos escuros, dentro de salas assépticas, em quartos baratos de motéis e no aconchego do lar. Um rio, um fio que percorre os corpos em êxtase. Fecundo de tantas malícias e carícias e apelos e pelos que se envolvem, novelos de línguas trançadas em brasa tingida de vermelho. Entumescido. Palavra feia para duro. Pele que raspa na barba mal feita. Sobre a cama de lençóis em desordem, camadas de suores e outros líquidos. Escorrem trilhas úmidas pulsantes entre pernas. Quereres insanos. Despertar em poluções orgiásticas oníricas ou desmaio por milésimos de segundo da perda dos sentidos. Petit mort, os franceses têm razão. Morre-se um pouco a cada vez que se rasga o pensamento com um jorro. Espuma que cobre o corpo, o canto da boca, as coxas nuas, os dedos. Cadência, dormência, latência. Lan-gui-dez. Naquele segundo tão perseguido nada existe além do espasmo de cada centímetro, de cada célula, de cada gota de sangue. Exängue. Dissolvido entre carnes e ossos trêmulos, convulsos. Olhos baços, cansados. Caminhos traçados por dobras lambidas. Cheiros que arrebentam múltiplos e vazam por frestras impensadas. Os franceses têm razão. Morre-se no gozo.

* imagem do blogue Corpo Conceito