Sumiço

Quando fico muito tempo sem vir aqui me sinto estranho. Um pouco em dívida com minha escrita. Pois ganho a vida escrevendo pelos outros, traduzindo tecnicidades infinitas, tão longe do literariamente desejado. E c'est la vie (en rose) que levo, entremeios e entretantos, buscando me alimentar. Por exemplo, um dos últimos banquetes que tive, encabeçando a lista de melhores livros de 2009 para mim foi o Hotel Novo Mundo (Ed. 34), da Ivana Arruda Leite. Texto enxuto, direto, lancinante. Poderia ter 300, 500 páginas, mas bastaram cento e poucas para ficar redondinho. Há gente que diz que o texto é fraco perto do que a Ivana pode fazer com contos. Mas são estilos diferentes, enfoques diversos. Como diz Cortázar, o conto ganha pelo nocaute, o romance por pontos, e isso Hotel Novo Mundo faz muito bem. A história de Renata, paulistana que mora no Rio há anos e foge de sua vida de riqueza e glamour para recomeçar sua vida na boca do lixo paulistana, num hotel da região da Luz, conhecida por antigamente abrigar a cracolândia, é contada em sete dias. Cada capítulo, um dia da semana, onde se sabe mais de Renata e das personagens que a cercam: Divino, o carioca que é transferido para a filial do banco em São Paulo, Genésia e Leão, donos do hotel, Cesar, o ex-marido de Renata, Margô, ex-mulher de Cesar, Zema, pai Lauro, Ritinha... são pinceladas em cores vivas de muitas pessoas que conhecemos, de gente com quem convivemos ou ao menos já vimos. Cada um tranquilamente daria mais um pequeno romance, o que prova que talvez o texto poderia ter mais páginas. Mas a história é contada com tamanha paixão que a gente se satisfaz com o que ela dá, deixando a imaginação preencher gostosamente as lacunas que talvez a gente ache, fuçando, as entrelinhas do texto. Texto ágil, vibrante, colorido. Uma verdadeira delícia, mesmo. Vale a pena!
Quem quiser conhecer mais sobre a Ivana, é só entrar no http://doidivana.wordpress.com/, o blogue da moça.