O choro de Hamilton

Minha incursão ao chorinho começou tímida, como um apreciador distante, um leigo que mal sabe que instrumentos são aqueles tocados, mas que se encanta com o dedilhar dos músicos nos instrumentos. Começou, claro, com meu irmão-amigo Vitor, de Belo Horizonte, quando me apresentou um DVD da Zélia Duncan chamado Eu me transformo em outras, no qual ela canta chorinhos e modinhas acompanhada por instrumentos típicos do choro, como pandeiro, cavaquinho e o inefável bandolim.
Desta feita, me impressionei com um moço moreno, grandalhão, que tocava calmamente seu bandolim. Esse é Hamilton de Holanda, disse meu irmão, um dos maiores violonistas e bandolinistas do Brasil. Então, fiquei com o nome do moço na cabeça, ouvi mais algumas coisas dele pelas rádios mais alternativas afora, busquei na Internet, mas nada de Hamilton.
Eis que terça-feira, no Caderno 2 do Estadão, me chega a notícia: Hamilton de Holanda lança novo disco, Íntimo. Opa, alerta vermelho. O moço reaparece, então tenho que conferir.
E fui. E comprei.
Enbevecido comecei a escutar junto com um grande amigo em casa. Nos surpreendemos com a beleza de cada canção. Uma atrás da outra, as músicas são de uma delicadeza, apenas o bandolim de Hamilton, como ele mesmo diz, sem máscaras, sem takes, apenas seu desejo de fazer música. Todas as músicas do CD foram feitas de improviso, como ele bem gosta, em quartos de hotel e na sua própria casa, quando não estava em turnê. A produção visual do CD é muito bonita e simples, do jeito que ele desejava. Disco intimista, no qual Hamilton usa apenas seu virtuosismo e as músicas que tem no coração e na cabeça, sempre. Cumpre o que promete no encarte do compact: fala ao coração, pois de lá veio.