Alain Resnais e a solidão cotidiana

Medos Privados em Lugares Públicos (Coers, França/Itália, 2006), 48º filme do diretor francês Alain Resnais e inspirado na peça homônima do inglês Ayckbourn, consegue nos mergulhar num clima de solidão acompanhada, no qual a neve pinta de branco e cinza a tela, sem descolorir os personagens que sob ela levam seu dia-a-dia. Nicole (Laura Morante) busca um apartamento para se mudar com seu namorado, o ex-militar Dan (Lambert Wilson). O relacionamento dos dois está por um fio, Nicole e sua irritação com o namorado desempregado que não se esforça por mudar sua situação e prefere dividir suas agruras com o garçom Lionel (o ótimo Pierre Arditi). Esse garçom, que cuida de seu pai doente, Artur (que não aparece em nenhum momento, apenas a voz ranzinza), aceita a ajuda da secretária carola Charlotte (Sabine Azéma, musa de Resnais) para cuidar do velho enquanto ele trabalha à noite. Essa mesma Charlotte é secretária no escritório onde trabalha Thierry (André Dussolier, engraçadíssimo), um corretor imobiliário que vive apenas com sua irmã Gäelle (Isabelle Carré, uma boneca de linda) e está procurando alugar um apartamento para Nicole. Está pronta a teia de relações que será desenvolvida no filme, em seus encontros e muito mais nos seus inevitáveis desencontros.

Cada um dos componentes dessa teia, entre mentiras e desilusões, enredam-se nas pequenas surpresas do dia-a-dia. Pouco a pouco se descobrem, ao se exporem de maneiras pouco convencionais, mas sempre muito discretas. A relação de cada um com o mundo é diferente, porém, forma-se pelo mesmo princípio: a fuga da indelével solidão na fria Paris invernal. Filme para se ver, sentir, pensar e discutir, pois cada lance é pensado, cada imagem traz chaves para o desenrolar da trama.

Um a parte: tente não ir sozinho(a) ver esse filme, pois acompanhado ele rende boas discussões num jantar ou num cachorro-quente pós filme. [;)]