Son(h)o


Desperto lentamente, ainda tomado pelo torpor sonolento da noite profunda e fria. Lá fora o vento ainda uiva triste sua cantiga de desespero, talvez ele tenha me acordado. Os primeiros raios da manhã rompem o negrume das paredes e as tingem dum brilho branco, fraco. O edredon ainda aquece meu corpo que aos poucos começa a se mover, preguiçoso. Olho para o lado e vejo seu corpo coberto, encolhido, como aninhado para fugir do frio. Lembro da noite, sorrio com malícia, depois a felicidade me toma. Quero falar, quero dizer tudo isso. Mas ouço seu murmurar, algo incompreensível, segredado com os anjos, assim, à toa. Deixo você dentro de seus sonhos, num mergulho demorado no sono tão deliciosamente infantil, que me comove.

- Você acordou, bom dia.
- Não é dia ainda. É noite, aquela na qual te amei até a exaustão, exausta satisfação no meu peito acalantada..."
- Você sempre me surpreende.

Vejo que vcoê dorme novamente. Com um sorriso no rosto de quem comeu chocolate, de quem ganhou o presente tão esperado, de quem brincou até cansar. Passo meu braço em torno de sua cintura, encolho meu corpo junto ao seu e desbravo mais um mar de sonos ao seu lado.