Hilda Hilst não é uma unâmidade: quem gosta ama, quem não gosta, odeia. Ela nunca doi mulher de meios termos, de diz que me diz. À frente de seu tempo, causava e ainda causa desconforto com seus textos, tanto de cunho filosófico quanto de cunho pornográfico e, em certos textos, há um ínfimo filete separando as duas faces da escritora.
Não li nada de Hilda, como posso julgar assim? Além de leituras de trechos de sua obra e de me inteirar de sua história de vida, assisti nesse fim de semana Matamoros (da Fantasia) no Centro Cultural Banco do Brasil aqui de Sampa (ali, pertinho da praça do Patriarca) e tirei minhas prévias impressões.
A primeira delas: Hilda Hilst merece ser lida. Visceral com arroubos de loucura e acessos de lucidez, seu texto é um fluxo de consciência constante e polifônico, uma mistura de vozes e imagens realmente impressionante. Sacrílego e sagrado, profano e profundo. A segunda impressão: a peça foi bem montada, alguns excessos talvez se justifiquem, mas seria o caso de conhecer melhor a obra da moça Hilst (que ganhará em breve um centro cultural em sua casa em Campinas). Inspirado no texto "Tu não te moves de ti", de 1980, conta a história de Matamoros, menina mais do que travessa, desafiadora, que tem um grande embate com sua mãe, Aiága, primeiro por seu comportamento anticonvencional e, depois, por conta de Meu, o homem que chega, o homem da casa, o homem de todas. Matamoros e sua misteriosa mãe alimentam as linhas do texto de Hilda com loucura, explorada ao extremo na bela montagem e encenação de Beatriz Azevedo. Sabrina Greve toma conta do palco e dissolve em seu corpo frágil de menina o ideal de princezinha e mostra as maldades e impurezas da infância. Aiagá, interpretada pela fabulosa Maria Alice Vergueiro, tinge esse cenário de vermelho e amarelo, com sensualidade e alegria impensáveis nesse papel. Luiz Päetow, esse não consegui sentir muito, então me eximo de comentários. Uma peça sobre mulheres, imersa no passado, presente e futuro.
Vale a pena conferir, até 5 de agosto, Matamoros (da Fantasia). Agora preciso conhecer mais da Hilda e volto a falar dela aqui.
PS.: E olha que maluco: procurando uma foto de Matamoros pra colocar aqui, encontrei o blog da diretora, Beatriz Azevedo, que inclusive é cantora também. Vou dar parabéns, né?