1. Sou filho adotivo e acredito esse ser o fato mais importante da minha vida. Doação maior que essa estou para ver, dispor-se a criar alguém que chega de repente e que ninguém sabe no que vai dar. Apesar de minha adoção ter sido muito cedo (eu tinha 26 horas quando fui adotado), ainda assim é um processo complicado. Devo minha vida, o que sou hoje, aos meus pais que me educaram com o máximo de cuidado e carinho que podiam, ao meu irmão que sempre está ao meu lado, independente da situação e a todos aqueles que participaram do meu crescimento. Apesar de não terem estudado muito, meus pais sempre foram bastante exigentes quanto aos meus estudos, à minha formação humana e profissional. Amar sem condição, apenas eles mesmo.
2. Desde muito cedo eu gosto de estudar, me dou bem com os livros e os cadernos, tanto que aos 4 para 5 anos eu já era quase alfabetizado e aos 6 anos, no prézinho, não durei 2 meses e fui para a 1ª série. Eu ainda desconfio que foi porque eu chorava muito, vivia aos prantos, ou por que o amiguinho havia dito que não brincaria comigo, ou por que minha mãe havia esquecido de mandar o iogurte do lanche, ou por que a massinha havia grudado na minha mão e não queria sair. Tanto choro que a tia Irene (olha, lembro até hoje) me mandou para a 1ª E, dos alunos mais atrasados e lá comecei a ter um pouco mais de malícia: todos mais velhos, inclusive velhos demais para estar na 1ª série. Desde então, nunca mais andei ou me relacionei bem com gente mais nova ou muito mais nova, salvo raros (e belos) casos.
3. Aos 10 anos de idade, o segundo grande acontecimento da minha vida: minha família mudou para Belo Horizonte. Uma das mais ricas experiências que já tive na minha pré-adolescência, mudança total de ares e que me rendeu um grande amigo e irmão: Vitor. Morar em BH despertou em mim um tato para a arte imenso, do qual eu não tinha noção. Mineiro é muito artista, sempre criando algo, todos os que conheço, por exemplo, tocam algum instrumento ou cantam, pintam, fazem arte. Lá fiz curso de desenho artístico (sempre gostei de desenhar), pintura, sapateado (argentino, tap dance fiz depois), teatro. Eu era realmente um caramujo, tímido e envergonhado. Hoje ainda não sou tão atirado, mas ao menos consigo conversar com as pessoas sem medo. E ainda pinto quadros e faço um pouco de cena etc.
4. De volta a São Paulo, ainda no espírito teatral, participei de vários grupos. Pulei de galho em galho até que, numa mudança de escola (já estava craque em mudar de casa, escolas, amigos etc.) conheci Samara e Sabrina Ricci, professoras de dança. Sempre gostei de dançar e me destacava entre os amigos como dançarino: na lambada, no funk (James Brown, não Tati Quebra-Barraco), na lenta, sempre fui bom. E elas viram isso em mim e me chamaram pra participar de um grupo de dança que tinha de tudo um pouco: dança de salão, axé, jazz... Foram 5 anos muito gratificantes para mim, de muita diversão e companheirismo dos amigos de grupo, viagens e tudo mais. Pena que acabou. Mas os amigos ficaram, para sempre.
5. 17 anos, término do Ensino Médio. Hora de decidir o que fazer da vida, não é? Ainda imbuído pelo espírito artísticos, tinha fixo na cabeça que artes cênicas seria a melhor opção: já havia feito teatro antes, amador claro, mas já havia me apresentado algumas vezes, estudava os teóricos do teatro com relativo afinco (trabalho desde os 15 anos, então tirava umas horinhas do dia para ler Stanislawsky [eu, mais doido que ele, querendo entender a criação do personagem] e outros teóricos do teatro). E claro, queria USP. Quando comprei o manual de inscrição da FUVEST tomei um susto: além do vestibular, uma prova de aptidão com 10 peças de teatro de autores clássicos, que deveriam ser estudadas de cabo a rabo, para que entre elas fossem escolhidas apenas 3 para a sabatina. Achei por demais para mim, pois Ionesco, Ibsen e Garcia-Lorca ainda não eram nomes para mim. Daí veio a grande questão: que fazer? Eu sempre gostei de idiomas, inglês na época era uma paixão e eu me saía muito bem nas aulas (apesar de o inglês ter sido um fantasma na 6ª série, não entendia a porra do "do/does" nem me pagando) e quando dividi essa agrura com a professora Lérida, que me dava inglês no 2º ano do colegial, ela, de pronto, disse: