Minha vida é um livro aberto (mas nem tanto)

O Leandro do GaeGaeGae passou para frente um desafio: listar 7 acontecimentos importantes da vida e repassar isso para mais 7 pessoas. Vou tentar ser breve e logo depois repasso a "batata quente":

1. Sou filho adotivo e acredito esse ser o fato mais importante da minha vida. Doação maior que essa estou para ver, dispor-se a criar alguém que chega de repente e que ninguém sabe no que vai dar. Apesar de minha adoção ter sido muito cedo (eu tinha 26 horas quando fui adotado), ainda assim é um processo complicado. Devo minha vida, o que sou hoje, aos meus pais que me educaram com o máximo de cuidado e carinho que podiam, ao meu irmão que sempre está ao meu lado, independente da situação e a todos aqueles que participaram do meu crescimento. Apesar de não terem estudado muito, meus pais sempre foram bastante exigentes quanto aos meus estudos, à minha formação humana e profissional. Amar sem condição, apenas eles mesmo.

2. Desde muito cedo eu gosto de estudar, me dou bem com os livros e os cadernos, tanto que aos 4 para 5 anos eu já era quase alfabetizado e aos 6 anos, no prézinho, não durei 2 meses e fui para a 1ª série. Eu ainda desconfio que foi porque eu chorava muito, vivia aos prantos, ou por que o amiguinho havia dito que não brincaria comigo, ou por que minha mãe havia esquecido de mandar o iogurte do lanche, ou por que a massinha havia grudado na minha mão e não queria sair. Tanto choro que a tia Irene (olha, lembro até hoje) me mandou para a 1ª E, dos alunos mais atrasados e lá comecei a ter um pouco mais de malícia: todos mais velhos, inclusive velhos demais para estar na 1ª série. Desde então, nunca mais andei ou me relacionei bem com gente mais nova ou muito mais nova, salvo raros (e belos) casos.

3. Aos 10 anos de idade, o segundo grande acontecimento da minha vida: minha família mudou para Belo Horizonte. Uma das mais ricas experiências que já tive na minha pré-adolescência, mudança total de ares e que me rendeu um grande amigo e irmão: Vitor. Morar em BH despertou em mim um tato para a arte imenso, do qual eu não tinha noção. Mineiro é muito artista, sempre criando algo, todos os que conheço, por exemplo, tocam algum instrumento ou cantam, pintam, fazem arte. Lá fiz curso de desenho artístico (sempre gostei de desenhar), pintura, sapateado (argentino, tap dance fiz depois), teatro. Eu era realmente um caramujo, tímido e envergonhado. Hoje ainda não sou tão atirado, mas ao menos consigo conversar com as pessoas sem medo. E ainda pinto quadros e faço um pouco de cena etc.

4. De volta a São Paulo, ainda no espírito teatral, participei de vários grupos. Pulei de galho em galho até que, numa mudança de escola (já estava craque em mudar de casa, escolas, amigos etc.) conheci Samara e Sabrina Ricci, professoras de dança. Sempre gostei de dançar e me destacava entre os amigos como dançarino: na lambada, no funk (James Brown, não Tati Quebra-Barraco), na lenta, sempre fui bom. E elas viram isso em mim e me chamaram pra participar de um grupo de dança que tinha de tudo um pouco: dança de salão, axé, jazz... Foram 5 anos muito gratificantes para mim, de muita diversão e companheirismo dos amigos de grupo, viagens e tudo mais. Pena que acabou. Mas os amigos ficaram, para sempre.

5. 17 anos, término do Ensino Médio. Hora de decidir o que fazer da vida, não é? Ainda imbuído pelo espírito artísticos, tinha fixo na cabeça que artes cênicas seria a melhor opção: já havia feito teatro antes, amador claro, mas já havia me apresentado algumas vezes, estudava os teóricos do teatro com relativo afinco (trabalho desde os 15 anos, então tirava umas horinhas do dia para ler Stanislawsky [eu, mais doido que ele, querendo entender a criação do personagem] e outros teóricos do teatro). E claro, queria USP. Quando comprei o manual de inscrição da FUVEST tomei um susto: além do vestibular, uma prova de aptidão com 10 peças de teatro de autores clássicos, que deveriam ser estudadas de cabo a rabo, para que entre elas fossem escolhidas apenas 3 para a sabatina. Achei por demais para mim, pois Ionesco, Ibsen e Garcia-Lorca ainda não eram nomes para mim. Daí veio a grande questão: que fazer? Eu sempre gostei de idiomas, inglês na época era uma paixão e eu me saía muito bem nas aulas (apesar de o inglês ter sido um fantasma na 6ª série, não entendia a porra do "do/does" nem me pagando) e quando dividi essa agrura com a professora Lérida, que me dava inglês no 2º ano do colegial, ela, de pronto, disse:

- Faça Ibero-Americana.

- Mas Lérida, faculdade particular é caro, meu pai...

- Não, ela não é tão cara e é ótima na área de tradução.

Tradução. Mal sabia o que era isso, mas fui lá e tentei passar. Meu pai, em vez de me dar um carro quando entrei na faculdade, fez um acordo comigo: se passar no vestibular, eu te ajudo a pagar até quando der. Se não passar me devolve o dinheiro da inscrição. Em 89º lugar passei e era o mais novo calouro da FIA (Faculdade Ibero-Americana, hoje UNIBERO), mas ainda estava desconfiado do curso, como seria, o que eu faria quando acabasse. Por culpa do saudoso professor Fernando Dantas e de outros queridos mestres, em um mês eu já sabia de todo o meu futuro: eu seria (e hoje sou) tradutor.

6. Claudia, mulher bonita, inteligente, descolada e descendente de alemães e austríacos. Que ela tem a ver com essa história? Tudo. Na faculdade conheci Claudia Muehlberger, do curso de Administração Hoteleira, em 1997. Eu era professor de dança de salão na faculdade, o que me rendia um bom desconto nas mensalidades. Levada por uma amiga, Claudia entrou na sala desconfiada, mas logo se entregava, meio desajeitada, aos passos do mambo, chá-chá-chá e salsa. E também a uma paixão que foi arrebatadora. Claudia namorava, eu me apaixonei por ela, queria a todo custo e ela não queria deixar o namorado. Um belo dia Claudia me disse: "eu falo alemão". Pronto, cai bobo apaixonado e pedi pra que ela me ensinasse um pouco. Foi o primeiro passo para outra paixão: o idioma alemão. Eu e Claudia depois tivemos um affair de quase quatro anos (tempo da faculdade), com muitos vais-e-vens, e hoje é uma grande amiga e posso dizer que foi minha preceptora no alemão, que há quase 7 anos está na minha vida.

7. 23 de abril de 2003. Entro num apartamento vazio, por volta das 13hoo. Todos que um dia saíram da casa dos pais para morar sozinhos tiveram essa sensação. Angústia e alegria, fechamento de ciclo, sei lá. Sei que é uma sensação muito estranha, esquisita mesmo. Saía de casa não por problemas, mas por que queria ter minha vida, minhas coisas, até mesmo minhas contas. Meus pais sempre foram maravilhosos, não tinha do que reclamar. Porém, sou um inquieto, não consegui passar dos 23 anos sob a barra da saia da mamãe e fui morar com um amigo. Desde setembro do ano passado moro sozinho, o amigo resolveu morar sozinho também e isso me deu a oportunidade de realmente viver sozinho, ter controle total sobre minha casa e minhas coisas. Deu uma geral no apê, deixei com a minha cara, pedi aprovação e dicas dos amigos e agora minha casa é mais aconchegante, mais confortável, mais minha cara. Minha saída de casa estreitou os laços com minha família, facilitou minha vida profissional e acadêmica, além de me dar total liberdade dentro do meu "reino". Hoje mesmo pensei, nossa, vai fazer 5 anos que saí da casa dos meus pais. E hoje digo que cresci, amadureci e colho, com bastante alegria, os frutos de muita batalha, matando um leão por dia para mostrar quem ruge mais forte. E feliz, muito feliz, cada vez mais, pois hoje tenho pessoas ótimas ao meu lado, além da família oficial, que me dão apoio a todo o momento, a família que eu escolhi para mim, meus queridos amigos. Aos que estão ao meu lado hoje, agradeço por me fazerem feliz e realizado (nossa, virou uma coisa Arquivo Confidencial do Faustão aqui, né? hahahahaha).
Agora eu quero ver o xindolelê: Tiago, Thiago Lira, Flavinha, Myriam Kazue, Cleber, Fabrício e Mila. Vocês são os meus indicados para a brincadeira "Minha vida é um livro aberto (mas nem tanto)". Boa sorte e divirtam-se!