Paris, eu te amo

São 23 cineastas e uma cidade. Mas não qualquer cidade, mas uma das mais famosas cidades européias, a Cidade Luz, a Cidade do Amor e das Paixões Arrebatadoras. Mas também uma cidade com violência, mistérios e desajustes. Com desigualdade para os imigrantes, com a tristeza dos seus habitantes. Assim é Paris Eu te Amo (Paris Je T'Aime, 2006), filme que já está há um tempinho em cartaz, mas que vi apenas ontem, numa sessão tardia, no HSBC Belas Artes, cinema que costuma manter bons títulos por mais tempo do que o normal (inclusive, assisti Pequenas Miss Sunshine dias antes de as TVs a cabo o exibirem em seus horários nobres).

De vários lugares do mundo, esses diretores exploraram o que havia de mais diverso em Paris. Entre histórias engraçadas, como a do turista no metrô parisiense e histórias comoventes, como da mãe imigrante que trabalha como babysitter, os cineastas conseguiram pintar a capital francesa com vários tons: o âmbar das luzes da torre Eiffel e suas ruelas iluminadas de forma romântica, o colorido dos cafés e boulangeries, as peles num desfilar branco, amarelo, moreno e negro, o cinza da cidade moderna que cresce entre as antigas construções. A visão do parisiense, do marroquino, no africano, do espanhol, do inglês, do americano e do brasileiro. Sim, um dos curtas é de brasileiros, Walter Salles e Daniela Thomas, que não fazem feio no que Walter faz de melhor: uma espécie de road movie dentro da cidade.

O último curta, a despedida de Paris Eu Te Amo, está em tom confessional. Dirigido por Alexander Payne (de Sideways), mostra a turista americana e caipira em sua viagem solitária à Cidade Luz, depois de um pequeno curso de francês, no qual ela testa seu francês e sua fé num futuro melhor. Solidão e alegria originam uma mescla perfeita, com a qual, como diz a personagem, senti saudade daquilo que nunca vivi. Numa viagem que fiz ano passado, senti exatamente isso: saudade de uma liberdade conquistada, num lugar onde desfrutar dela é obrigação e ao mesmo tempo martírio, pois não há com quem dividir. A dor vai dando espaço ao sentimento de alegria quando se descobre que dentro da gente há quase tudo que a gente precisa. Só basta descobrir...