Paraty em gotas

Feriado da Independência. Chegar em Paraty é sempre encantador, mesmo que seja às 5 da manhã de um dia chuvoso, no qual vemos apenas cães de rua, os poucos "baladeiros" voltando para casa ou turistas perdidos na noite escura das casas antigas da cidade. Apesar de esquecida pelo governo do Estado do Rio, como dizem seus moradores, Deus e os turistas não deixam de lado essa pequena pérola incrustadas entre as montanhas de Mata Atlântica, com dezenas de ilhas e praias deliciosas, algumas paradisíacas.
Mas parece que um dos mencionados acima, o Todo Poderoso, esqueceu dos turistas e mandou chuvas bravas durante todo o feriado, aliviando apenas no domingo, com sol africano ao meio-dia, o que me fez pensar bastante em frustração, de um lado, e satisfação, de outro lado. Havia feito um planejamento digno de feriado: praia na tarde do primeiro dia, noite de barzinho (Che, talvez), segundo dia com escuna o dia todo, terceiro dia na Praia do Sono, lugar fantástico no qual a luz elétrica e a modernidade não tocaram ainda, por imposição de seus moradores caiçaras e pela dificuldade de acesso (50 minutos de trilha no meio da mata). Nada disso se concretizou: praticamente os três dias foram de rede e cama, sem maiores emoções, e as noites eram passadas na cidade, com verdadeiros passeios nos quais o passado e o presente se mesclam de maneira incrível.

Paraty para mim sempre é um bálsamo. Porém eu não estava sozinho e acredito que meu maior medo foi a decepção daqueles que estavam comigo. Apesar da negação de todos, a tristeza e a melancolia tomou conta de todos e isso me afligiu de forma intensa. Porém, em determinada altura do campeonato, resolvi curtir como dava e levar comigo a galera, que acabou curtindo também a viagem. Percalços à parte, posso classificar a viagem de realmente válida: dormi bastante, me permiti dormir mais do que o costume e em tardes perdidas nas quais a chuva tamborilava telhados e folhas das bromélias, numa sinfonia mais que perfeita. Gota a gota percebi o quanto eu teria me arrependido se toda essa chuva tivesse sido passada aqui, na Paulicéia enevoada, pois, valeu cada gota, cada orvalho e cada respingo de Paraty, que coroou a estada de todos com um belo sol dominical. Infelizmente, o último dia da viagem...