Adônis morreu IV

Aos 19 anos de Adônis, 18 de Miriam, resolveram se casar. Há 4 anos namoravam firme. Adônis agora era um rapaz responsável, era chefe do setor de montagem da fábrica onde começou a trabalhar e se tornara um rapaz bonito. Cabelos castanhos e muito lisos, nariz aquilino e boca pequena, olhos castanhos bem escuros. Alto, de traços muito bem talhados, altivo, mas não orgulhoso, levava a vida pacata da cidade sem grandes problemas, a não ser um: Miriam.
Não sabia realmente se aquilo que sentia por Miriam era amor. De doce menina dos olhos amendoados, Miriam cada vez mais mostrava ser uma pessoa de interesses maiores do que aqueles que sua família poderia lhe dar. Apesar de ter desejo de voar para mais longe, amava Adônis e não o trocaria por ninguém que lhe desse melhores condições de vida. Até por que dificilmente esse alguém apareceria no lugarejo onde viviam. Por isso, Miriam insistia que casaria apenas com uma condição: iriam para a capital assim que tivessem casados.

Adônis não sabia muito o que fazer. Ao mesmo tempo que a idéia lhe parecia fantástica, a aventura não era dos maiores prazeres dele. Gostava mesmo era de estabilidade, de ter chão para poder caminhar, e ir para São Paulo significava largar todo o pouco que havia construído naquela cidade. Com seu salário já havia comprado uma moto e com ela passeava pelas estradas das cidades vizinhas, o vento no rosto e a paisagem bastavam para deixá-lo feliz.

"Paisagem linda e cheiro de bosta de vaca" reclamava Miriam na garupa da moto.

Não agüentava os comentários de Miriam. E o que mais o irritava: Miriam também era do interior, de uma cidade não muito distante dali, a qual ele a levava às vezes para visitar familiares. Mas não sabia mais viver sem seus olhos amendoados e sem o muxoxo quando ele não queria lhe dar algo. Sabia apenas que viver com ela seria bastante difícil, mas era homem de palavra e iria cumprir o prometido. E poucos meses depois, Miriam e Adônis trocaram alianças na frente do padre Milton, na igrejinha da praça. Em seguida, logo depois da lua-de-mel, partiram da pequena cidade, em direção daquilo que não aguardavam...

(Continua)