Modernos vitrais
(Para Kazue San)
A pedra embrulhada em papel amarelo estilhaça a janela. Papel pautado, cuidadosamente amarrado com barbante grosso, em formato de cruz.
Num estampido bate no assoalho, fazendo estalos nas tábuas compridas e manchadas pela poeira. Martina, assustada, toma a pedra em suas mãos. Desamarra-a com cuidado, lentamente.
Abre na escrivaninha a folha, passando por sobre a pauta seus dedos magros e nus. Desamassa o papel, a letra lhe é conhecida: são palavras carinhosas de seu amado.
Seu pensamento voa. Imagina todo o trabalho para aquele feito romântico. Segue até a janela e sussurra seus pensamentos na noite enluarada:
"Puta que o pariu. Podia ter mandado um e-mail, né?"