O circo da tragédia

Vivemos hoje a Idade Mídia, na qual a informação rápida e imprecisa às vezes vale como verdade absoluta, desmentida na próxima atualização da página da Internet e reafirmada tempos depois na televisão e desmentida no próximo SMS que recebemos do amigo antenado. E fica a dúvida: onde vamos parar?

Sem saudosismo, pois nem idade para tanto tenho, mas acredito que outrora, no tempo do jornalismo raçudo, as coisas tinham outro approach, ainda para ficar no campo da era da informação: o fulano que era curioso e havia, com bastante suor e perspicácia, entrado num jornal buscava esmiuçar tudo antes de soltar uma notícia bombástica. Editores, redatores, contínuos, focas e toda a turma se empenhava para levar algo de útil e verdadeiro ao público. Me desmintam se estiver falando uma pataquada sem precedentes, mas é o que me parece. Dessa época devia-se lembrar o há três dias finado Eduardo Martins, jornalista d'O Estado de São Paulo e responsável por um dos mais utilizados Manuais de Redação da língua portuguesa, o Manual de Redação e Estilo d'O Estadão. Ressalvas à parte, é realmente um guia interessante.

E vemos a bandalheira comercial montando suas muralhas da falta de rigor com chamadas espetaculares ou até Fantásticas no caso Isabella. Sim, também estou cansado dessa história, também vejo o pai e a madrasta da garota serem jogados na fogueira da inquisição moderna, em flashes ao vivo da casa dos pais, da casa da mãe, do cabeleireiro onde Anna Jatobá vai fazer escova depois dos dias na cadeia e do boteco onde Alexandre toma suas biritas. E entrevistas com parentes, amigos e afins e também com a audiência, para dar sua opinião, claro! E aqui vamos nós, num labirinto intrincado de informações desencontradas que, como vêm de um intermediário, a imprensa, podem muito bem ter sido manipuladas a bel prazer.

Tenho medo disso. Pois amanhã podemos ser vítimas de um engodo parecido com o da Escola Base, lembram-se? Hoje os proprietário, inocentes, devem de uma pequena loja de artigos escolares, bem longe da antiga instituição que lhes pertenciam. E bastou a imprensa botar a mão.

Fiquem de olho. Nessa era da Idade Mídia, quanto mais são Tomé formos, melhor.

PS 1.: A expressão "Idade Mídia" é do Prof. Gabriel Perissé, do curso que estou fazendo de Formação de Escritores. Também sobre a imprecisão jornalística, vale a pena conferir a matéria do mesmo Perissé na revista Língua Portuguesa deste mês, sobre o adjetivo "suposto" e suas variantes.

PS 2.: Imagem tirada do blog
O Possível e o Extraordinário, ironicamente alardeando a necessidade do jornalista.