A fome e a vontade de comer

Há alguns meses havia lido no jornal ÃO sobre o fechamento de um convênio entre Brasil e Itália para produção de filmes italianos aqui e brasileiros lá e outros subsídios, o que achei de importância extrema pro desenvolvimento do cinema brasileiro que, apesar de incipiente, está cada vez melhor representado.


A prova do sucesso de tal convênio foi coroado com Estômago (2008), com direção de Marcos Jorge, um diretor com bastante experiência em documentários, curtas e médias-metragens, esse é seu primeiro longa ficcional que faz com muita maestria. Com o excepcional João Miguel, na pele do retirante nordestino Raimundo Nonato, e elenco que vale a pena (como Fabiula Nascimento, Zeca Cenoviz, Carlo Briani, Paulo Miklos e outros) essa é uma "fábula nada infantil sobre o poder, o sexo e a culinária". Com seus diálogos rápidos, ríspidos e salpicados de palavrões, Estômago parece realmente que está acontecendo diante de nossos olhos, pela verdade de seus personagens; apesar de ser fundamentalmente uma comédia, elementos de drama (pela inocência explorada de Nonato) e thriller se confundem em ruas paulistanas.

Ao chegar na cidade grande, Raimundo Nonato conhece seu Zulmiro, dono de um boteco copo-sujo no centrão, que serve coxinha frita no óleo bicentenário e ovos coloridos. Empregado como ajudante no barzinho, Nonato começa suas aventuras gastronômicas e chega até o Bocaccio, restaurante italiano de Giovanni, ao mesmo tempo que conhece Íria, a prostituta gulosa que o conduz também por uma aventura sexual: detalhe, nenhuma dessas aventuras tem volta para Nonato. A grande sacada do filme: misturar cenas do futuro do protagonista Raimundo Nonato, na carceragem, com as cenas de sua vida pregressa e também com a sua "evolução" dentro do sistema de poder alternativo da cadeia.

Há muito tempo não me divertia tanto com um filme, vale muito a pena.

Para quem quiser saber mais, clique aqui para o site do filme.