Não gostava muito de animações japonesas. Sempre me remeteram aos pokemons da vida, desenhos que abusam de cores e luzes e fazem as crianças terem ataques epiléticos. Mas não era por isso que eles me incomodavam, nem pelos diálogos às vezes incompreensíveis. Mas pela temática repetitiva e maniqueísta de "o bem vence o mal, espanta o temporal...", num momento onde a fronteira entre essas duas forças é cada vez mais tênue. Boa época do Spaceboy e do Spectroman e afins. Até Jaspion era mais divertido.
Disse acima e repito: não gostava até assistir ao longa de animação Paprika (Paprika, 2006, Japão), do diretor Satoshi Kon, famoso por outras animações, como Tokyo Godfather e Millenium Actress. Até então apenas havia ouvido falar algo sobre animes, mangás e afins, sem nenhum contato mais aprofundado. Confesso que por um pouco de falta de interesse, um quê de preconceito da minha parte com a arte feitas na terra do sol nascente (culpa dos Cavaleiros do Zodíaco). Porém, numa reunião de amigos aqui em casa, de repente sacam de uma bolsa o DVD e eu pedi pra botar pra rodar. E não é que é muito bom?
A psicodélica história é a seguinte: um aparelhinho é inventado num futuro não muito distante que possibilita às pessoas gravarem e entrarem em sonhos alheios. Esse aparelhinho tem como destino o uso psicanalítico. Porém é roubado e daí começa o filme: um detetive é chamado para resolver o caso com a Dra. Chiba e a equipe da clínica que criou o tal brinquedinho. Nessa brincadeira, os sonhos começam a se mesclar e tornam-se uma grande caravana de bonecas japonesas, Nossas Senhoras, estátuas da liberdade, tronos, eletrodomésticos, todos numa grande parada pelos sonhos, levando os "sonhadores" a atitudes drásticas, como o suicídio. E o ladrão de sonhos começa a apavorar a cidade.
É, o filme não tem nada de infantil. Satoshi utiliza-se da animação para romper com as barreiras do imaginável, com as paisagens de cores fortes e multiplas, as mudanças e reviravoltas das personagens. Muitas vezes fica difícil saber o que é sonho e o que é realidade e o diretor imprime direitinho as alusões a filmes antigos e a conceitos da psicanálise que, apesar de não serem profundos, dão um tempero bastante intrigante ao filme. Tipo de DVD que precisa ser assitido algumas vezes para que a miríade de acontecimentos seja absorvida por completo. Não sei se foi usada muita "Paprika" durante o filme, mas algum alucinógeno, ah, isso é certo.
Vale a pena!