Caio na tela

Hoje fui ver "Onde andará Dulce Veiga?" (2007), filme de Guilherme de Almeida Prado, baseado no romance homônimo de Caio Fernando Abreu (veja outro post sobre o moço aqui), que traz a história do jornalista Caio (Eriberto Leão) que, ao ser contratado pela redação de um jornal, desperta o interesse de seu chefe (Cacá Rosset) pela atriz e cantora de carreira meteórica Dulce Veiga, (Maitê Proença) que desaparecera há anos. Ao tentar encaixar as peças do quebra-cabeça que se tornara o sumiço de Dulce, Caio conhece Márcia Felácio (Carolina Dickman), uma cantora de rock alternativo que grava uma música de Dulce. Na busca pela artista, Caio se vê num emaranhado de coincidências e confusões, tanto de si próprio quanto do mundo a sua volta.

Resumindo, em uma palavrinha: delirante. O filme não é ruim, mas também está um pouco longe de ser uma obra prima. É rápido e por isso se torna um filme exigente: exige que se veja mais de uma vez (como o próprio cartaz ao lado sugere) ou que se tenha 6 olhos para pegar todas as referências à cultura pop, ao mundo gay, aos anos 70/80 etc. De qualquer forma, o filme nos pega pela novidade, ao menos para mim, que foi o efeito-livro: os corte das cenas e as "entrecenas" são como viradas de página, de um lugar para outro, e as repetições de cenas, como se o filme estivesse sendo escrito naquele momento e páginas e páginas tivessem sendo tiradas da máquina de escrever e jogadas no lixo (o que acontece no início do filme). Além disso, a quebra da linearidade e a inventividade do diretor, tanto no quesito filmagem quanto em optar levar um filme que trata com muita liberdade a questão da diversidade sexual, merecem aplausos de longe. Diferente dos roteiros baseados em livro, nos quais os adaptadores fazem questão de que pareça um roteiro original, "Dulce Veiga" faz questão de parecer livro, inclusive nos grandes diálogos e nos trechos mais non-sense (como a cena do lixão). Nisso o filme ganha muitos pontos. Porém seu final é previsível, quase noveleiro, e isso tirou o impacto que talvez o Caio tenha imprimido no texto original (o qual ainda não li, mas quero conferir). A história e suas tramas são bem montadas, diálogos e situações engraçadas permeiam o filme, porém o final foi avesso ao que conheço até agora de Caio F. Abreu, ou seja, foi pouco surpreendente.

Também participam do elenco Cristiane Torloni (engraçadíssima), Nuno Leal Maia (quase fazendo a si próprio) e Dalla Vecchia (também ótimo). Vale a pena conferir.