Revolutentando


Há tempos não posto descompromissado aqui. Por isso peço desculpa aos novos leitores, mas de tempos em quandos posto sem-pé-nem-cabeça, como um bate-papo que, como viram, já começou.

A vida passa por pequenas revoluções que numa brevidade longínqua se tornam grandes acontecimentos e estou na faze das menores, que se acumulam para minha alegria e desespero. Hoje vejo o sol com mais apreço do que antes, porém atrás de janelas fechadas, sob um ar condicionado impiedoso. Isso me faz dar mais valor ao respirar sob a sombra de uma árvore ou numa fresta de sol entre os prédios da cidade.

Aliás, numa dessas lagartixeadas em frestas solares comentei com uma amiga, a Tidori, que comigo se aquecia entre uma loja de doces e um grande flat na rua Bela Cintra: será que um dia havemos nós, humanos, brigar por um pedaço de sol, por um canto onde ele ainda bata radiante?
E arrumei meus livros. Burocraticamente coloquei-os em ordem alfabética, registrei em uma planilha todos os de literatura e agora vou relacionar também os dicionários e outros. Se estou ficando caxias não sei, sei que gostei muito dessa nova organização pois, quem conhecia minhas estantes era prova de que algo não estava certo: entre um livro e outro um isqueiro, um papel de bala, uma caixa de cigarros vazia, comprovantes de compras, incensos, CDs de programas e CDs virgens, cabos de força de notebook e outros, clipes e livros. Deu pra sentir a zona?

Enquanto digito esse post, assisto o DVD "Carioca ao Vivo", de um dos meus mestres, Chico Buarque. É de uma beleza singela, sua voz afinadíssima (apesar de muitos não a acharem bonita, eu gosto muito). Chico, por influência do meu irmão Vitor, de BH, se tornou uma obsessão. João Bosco por conta da Isabel, a menina-perdida que nunca encontro, mas que adoro sempre. Viciei em ambos que são deliciosamente brasileiros e decididamente universais. Já conhecia o CD "Carioca ao Vivo" (serviço: "Carioca ao Vivo", Chico Buarque, gravadora Biscoito Fino, no Submarino por R$19,90).

E ganhei, por uma recente e especial data, o livro "Poesia Completa", do Machado de Assis. Sim, Machado poeta, o que poucos enxergam e outros tantos desacreditam. Ele fez lá sua poesia quadrada, parnasiana, mas com a mesma beleza de seus contos e romances e, digo, com a mesma freqüência, assíduo. O Bruxo do Cosme Velho é sempre uma bela surpresa para quem curte boa literatura.

Para fechar: vou tomar uma sopinha e depois comer um chocolate. São Paulo alterna sóis e ventos, temos agora 13ºC. Né fácil não, só com guloseimas para se agüentar (depois reclama que está gordinho).