Logo, saindo do pequeno e lindo evento, corri para a cultura e encontrei um voluminho chamado Reflexões sobre poesia e ética (Ed. Ática), do próprio Kaváfis, com o qual estou me divertindo. Um dos textos me chamou a atenção, fala da beleza do homem mais humilde em detrimento da feiúra dos mais abastados. Segue a tradução do mestre José Paulo Paes e a minha releitura brasileira, 100 anos depois, das conclusões dessa reflexão. Uma gostosa brincadeira que compartilho com vocês:
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A beleza do povo, dos rapazes pobres, me encanta e me comove. Criados, operários, caixeiros do comércio, empregados das grandes lojas. Dir-se-ia que essa beleza é uma recompensa pelas privações que passam. O trabalho constante e a constante movimentação fazem-lhe os corpos esbeltos e simétricos. São quase sempre esguios. Seus rostos, pálidos nos que trabalham nas lojas, tisnados nos que trabalham ao ar livre, têm uma cor agradável e poética. São a antítese dos rapazes ricos, que têm uma tez doentiamente manchada ou são obesos devido aos excessos no comer e no beber e à moleza das camas. Dir-se-ia que nesses rostos gordos ou estiolados transparece a feiúra das ladroeiras e pilhagens cometidas por seus ancestrais.
K.K., 29/6/1908"
"A beleza do povo não se vê apneas no sorriso sempre incansável, como a desafiar a opressão. Operário, motoristas, balconistas, lavadores de carros. Poderia se pensar que essa beleza é um alento que a alegria traz, embate aos desmandos de quem está "por cima". Muitos contam com a dita beleza, outros nem tanto, mas nem assim deixam de ser belos. Do outro lado da balança está a beleza comprada, própria do artificialismo do nosso tempo. Atrás dessa casca bela e cuidada por vezes há o nada, grande vácuo da falta de amor ao próximo, de cultura, de realidade. Poderia se pensar que na aparência saudável se encontra a infinita tristeza de quem pensa que a vida se resume à posse do vil metal."
P.R., 28/7/2008