Um canalha














Eu posso afirmar uma coisa nesses meus longos anos de estrada: ninguém presta. Nem você, que está aqui na minha frente, com interesse no que eu tenho pra contar, presta. Por mais religioso, por mais que ande na linha, de vez em quando tem que pular dela pro trem não te atropelar. É do ser humano um pouco de canalhice, uma safardanajem de vez em quando, faz a gente sentir que está vivo, que corre sangue nas veias, que o coração bate.
Eu confesso, sem pejo, sou um filho da puta perfeito. Estou numa posição em que há uma divisão clara entre os poucos filhos de santa e os muitíssimos filhos da puta. No exercício da profissão fica ainda mais claro quem é quem. E eu confesso também que meto a vara mesmo. Sem dó nem piedade. Imagina que eu vou deixar passar a oportunidade de uma boa foda, ainda mais nos tempos de seca que eu passo.
E não penso muito em quem vou comer não, mas prefiro as mulheres. Elas sim me encantam, fazem eu querer besteira. E elas vem aqui, me pedir ajuda, aconselhamento, com seus decotes provocantes e suas pernas de fora. Insinuantes, em vez de Evas, são as próprias maçãs pedindo para serem mordiscadas, devoradas. Algumas ainda se fazem de rogada, negam, brigam, dão tapa na cara... só para se entregar depois, submissas, enlouquecidas de prazer quando estamos no auge da trepada, suando feito malucos e com a adrenalina a mil, com medo de que alguém chegue e nos pegue com a a boca na butija ou a boca em otras cositas más.
Claro que tenho meus pudores: nada de zoofilia, pedofilia ou coisas do tipo, ao contrário do que muita gente pensa. Também nada contra quem pratica, acho válida toda a forma de prazer, desde que não seja às minhas custas Preciso de algumas amarras, por força da profissão, senão seria mais que devasso. A profissão que me dá casa, comida e roupa lavada, até por isso também não me casei, ou amasiei ou nada do tipo. Manter-me solteiro é uma das exigências do meu ofício e isso me dá liberdade para experimentar o mundo do jeito que ele é, tão canalha quando eu sou.

E agora, se você me dá licença, estão batendo à porta da sacristia. Deve ser alguma fiel querendo se confessar. São as delícias e agruras de ser padre. Até mais...

(Exercício prosposto no Curso de Formação de Escritores, criar um personagem canalha)