Velhos amores... (ou Escrita de Mau Gosto)


"Puta que o pariu! O que você fez?"
"Não, não..."
"Pu-ta-que-o-pa-riu..."

Devia ter deixado o moleque lá. Caralho, ele não devia ter feito isso. Era só um assalto, simples. Entrar, pegar o que puder de valor, sair. Mas não... moleque, molecagem. Ficou brincando com a arma, esfregando na cara da menina. Coitada, tava desesperada, olhão esbugalhado antes de estourar. Moleque do inferno.

"Eu não... putz... eu vou me matar."
"Não, idiota. Já não basta a azeitona que você gastou no olho da mina. Porra, você é um zé-mané."
"Não fala assim comigo..."

E começou a chorar. Eu não güento. Porra eu não güento. Tava o esquema certo, o Jão me empurra o moleque pra ajudar, dizendo que o moleque era bom e o escambau. Bom pra me foder, só se for... 

"Agora já foi, já era, mano. Matou, matou. Cobre a defunta."
"Eu não vou..."
"Cobre a defunta agora, anda!"

E ainda ficou com frescura, com chororô. Não é machão, de ficar brincando com a arma, pensando que é pirulito. Um merda, isso que ele era. O pior, a neném olhando, a pequena não devia nem ter três anos. Ele queria matar a pequena, dizendo que ela ia dedurar. Fiquei imaginando a menininha X-9 fazendo retrato falado, deu até vontade de rir na hora... mas me segurei. Segurança. Era o que o moleque precisava. Depois eu daria um jeito nele.

"Fazer o sinal-da-cruz não adianta, você vai pro inferno."
"Meu Deus, eu não queria, eu só queria..."
"Agora meu irmão, vamo dá linha na pipa antes que chegue alguém".

E chegou, coitado. O irmão. Nem deu tempo, foram duas no peito, caiu estatelado no chão da sala, quebrou uma cadeira no tombo. Essa mãe vai ficar na pior. Mas eu não queria assim. Só mato quando é necessário. E foi.

"Fodeu, nóis matô o cara..."
"Nóis? Era ele ou nóis, babaca. Tá do lado de quem?"

E saímos, vazados. Sem olhar para trás. Entramos no Chevette velho e corremos. Na Marginal joguei o moleque do carro, sem dó. Eu até falei pra ele colocar o cinto, ele me mandou tomar no cu. Ainda bem que não colocou. 

Sem chance de levar o B.O. comigo, o assassino era ele. Nem se ligou que quem matou o cara também foi ele. Tava tão assustado que foi só uma batidinha no braço pra ele disparar. Se fodeu... e agora vamos ver quanto eu tiro nessa tralha que peguei na casa da minha ex-namorada. Acho que dá pro mês...