Então é isso mesmo, ninguém precisa de tradutor, não é? Somos uma raça em extinção, com o advento das traduções automáticas e afins?
MENTIRA! (E espero que continue assim.)
Modéstia a parte, nunca fomos tão necessários quanto o somos nos dias de hoje. E ainda assim continuamos relegados aos bastidores do mundo, profissionais sub-reconhecidos, sem qualquer apreço de quem usa nossos serviços diariamente. A maioria das notícias, dessas que se vê a todo o momento na Internet, foi recolhida de uma central gringa (como a Agência Reuters e afins) e traduzida às pressas pra sair imediatamente. Esse programa que você está usando nesse minuto pra ler esse post também passou por habilidosas (ou nem tanto) mãos tradutórias. Os produtos que cercam você nesse minuto, duvido algum que não tenha, direta ou indiretamente, precisado de tradução.
E por que nosso reconhecimento é mínimo? Nulo quase? Não entendo mesmo essa postura de todos em vista da tradução, ou do tradutor, uma indiferença tamanha que me deixa realmente inconformado. E em todos os níveis culturais isso ocorre e por isso venho aqui mostrar um caso bem básico. Uma jornalista uma vez me disse que muito melhorou o reconhecimento dos tradutores, ao menos nos veículos maiores e mais respeitáveis. Hein? Cuméquié? Vamos a um exemplo bastante "simples".
Assino a revista Vida Simples, da Ed. Abril. Um encanto de revista, bem diagramada, bom papel, matérias interessantes para, como diz o slogan, "quem quer viver mais e melhor", com um site bastante interativo e elegante. Entre as matérias, existe uma seção sobre livros, CDs e outros. Eis que nos três livrinhos apresentados que com certeza precisaram de tradução para que ficassem acessíveis aos brasileiros NENHUM possuía a informação do tradutor, do(a) bendito(a) que ficou meses, com certeza muitas noites sem dormir, com dúvidas em um termo ou numa expressão muito específica, com dor nos braços, sonhando com o livro o perseguindo por vielas de letras, debruçado(a) em dicionários, babando em cima de teclados, mas mesmo com todas essas agruras, feliz e compenetrado no trabalho duro e importante de fazer a ponte necessária.
Óbvio que mandei um e-mail dizendo que a revista é ótima, cheia de elogios, mas com a interrogação na cabeça: uma revista tão boa não poderia deixar de mencionar os tradutores das obras, nem de suas matérias (se houver alguma traduzida), por uma questão de respeito e reconhecimento. Eis a resposta:
"Infelizmente a revista segue um padrão, por isso, não é citado a tradução dos livros indicados na seção para ler. Mesmo assim, anotaremos o seu comentário como sugestão."
Que padrão é esse? Como uma revista que trata de assuntos de vanguarda, de meio-ambiente e bem estar, felicidade e cumprimento dos deveres pode ignorar a existência de profissionais vitais para uma sociedade como a nossa, de informação pura, caminhe. Não quero confete, nem quero que haja estátuas de tradutores importantes espalhadas por aí, mas o mínimo de respeito pelo nosso trabalho. A começar pelos próprios tradutores, que muitas vezes subestimam seu próprio trabalho, que não valorizam seu próprio conhecimento. Claro, há suas exceções, há quem precise trabalhar mesmo e ganhar seu dinheiro (como é meu caso), mas aos poucos tenho aprendido a valorizar meu trabalho, meu ganha-pão. E esse tipo de desabafo é uma maneira de chegar à valorização efetiva de nosso trabalho.
Por isso, quando você for ler seu próximo livro de autor estrangeiro, dê uma olhadinha no nome do tradutor e dê um sorriso para ele. Saiba que para você ter aquela obra nas mãos, aquele cara deu um duro danado...
ATUALIZAÇÃO: A Revista Bravo também não cita os tradutores na seção de livros, apenas na parte de resenha. Só por que o espaço é pequenininho? Hum...
PS.: Pra não dizer que não falei em flores... YES, WE CAN!!!