Tatiana e o tempo

Numa época em que o tempo existia, Tatiana escrevia três cartas por dia para seus parentes, amigos e compatriotas russos. Menina, chegou ao Brasil com um cordão de ouro e um diário, falando russo, letão e alemão. O cordão entregou à causa política. O diário se perdeu, com o tempo que existia. 
"A preguiça é a mãe de todas as invenções"
O quarto idioma de Tatiana foi o português, aos 10 anos, aprendeu brincando. Tanto que logo começou a escrever na língua que aprendera. Mais tarde, casou com Júlio. Com ele, fazia tele-teatro, entre outras "coisinhas". Nessa época, em que tempo valia mais que dinheiro, Tatiana encontrava o Lobato, e a Emília, e o Visconde. Tatiana é a própria Emília, boneca mágica, que faz da caneta seu pó de pirim-pim-pim.  
"Criança não quer estudar, quer aprender."
Um dia, depois de muito traduzir, telenovelar, encenar, ensaiar, alguém perguntou a Tatiana: "Você não teria um livro aí na gaveta?". Pois não, havia um. Mas pra não perder a viagem fez mais três. E mais outros três. E mais outros. E mais tantos que chegou a um número invejável de livros, tão belos, ilustrados e brincantes.
"A preguiça é a mãe de todas as invenções."
 E a menina Tatiana, com seus 89 anos, ainda brinca e se diverte com as letras, os desenhos e os desejos. Mais do que asas, sua imaginação tem jato; entre limeiriques e tatus, entre meninos e meninas especiais, entre mundos e fantasias tão reais, entre medos e coragens que a experiência traz, Tatiana não dá lição, mas carinhosamente ensina. E aprende. E diz que "o último não existe, é sempre tudo penúltimo para mim". 

"Sou insegura, como qualquer pessoa que não é burra."

 (Esse texto foi inspirado na conversa com Tatiana Belinky, em 20 de novembro, homenageada da Balada Literária 2008, com trecho tirado da entrevista com Marcelo Maluf, a quem agradeço desde já.)