O pernambucano Marcelino Freire, escritor e agitador cultural que vive em São Paulo desde 1991, me surpreendeu por dois motivos: um, é uma pessoa engraçadíssima, animada, cheia de energia e de litertatura nas veias. Isso pude comprovar na Oficina de Prática da Escrita - Narrativas Breves da qual participei no dia 29 último, conduzida pelo autor. O segundo motivo foi o seu último livro, uma coletânea de contos e narrativas breves intitulado Rasif: Mar que Arrebenta. Confesso que já tinha ouvido muito falar de Freire, tanto pelos seus textos como pela sua aptidão em revolucionar cenários culturais com iniciativas pra lá de bem-sucedidas, como foi a última Balada Literária. Mas nunca havia pegado pra ler um livro seu, prestado atenção em suas palavras, em seus escritos e por isso podia dizer que não conhecia nada de Marcelino. Rasif tem texto rápido, não por ser curto, mas por sua agilidade extrema, que nos transporta para aquele momento, aquele acontecimento. A ironia por vezes fina, por vezes escrachada de Freire, deságua em gays e amores explosivos, rezas modernas a orixás, carros destruidores de relacionamentos e papais-noel em fuga. Sente-se que cada palavra foi tratada com esmero, calculada para surpreender, incomodar, desconfortar e esse é um dos grandes trunfos de Marcelino: fazer daquilo que é de todos, a língua, uma experiência diferente.