Pequenas Traduções: Paul Auster

 Jef Aerosol - Blind Angle
Prece a Salman Rushdie

Quando me sentei para escrever esta manhã, a primeira coisa que fiz foi pensar em Salman Rushdie. Tenho feito isso todas as manhãs há quase quatro anos e meio e por hora isso constitui parte essencial da minha rotina diária. Pego minha caneta e, antes de começar a escrever, penso no meu colega romancista do outro lado do oceano. Oro para que ele continue vivo por mais vinte e quatro horas. Oro para que seus protetores ingleses o mantenham escondido das pessoas que anseiam matá-lo - as mesmas pessoas que já mataram um de seus tradutores e feriram outro. Acima de tudo, oro para que chegue o dia no qual essas orações não sejam mais necessárias, quando Salman Rushdie será tão livre para andar pelas ruas do mundo quanto eu. 


(...) 1993*
Paul Auster, autor norte-americano de diversos best-sellers como Timbuktu e o Livro das Ilusões, também é tradutor do francês. Num livro chamado Collected Prose (Picador, 2003), uma coletânea de prosa, reúne-se diversos textos como Da mão à boca (From hand to mouth), no qual ele conta como foi a dolorosa descoberta de ser escritor, além de outros contos e ensaios surpreendentes. Seu estilo é marcado pelo fantástico (como em Mr. Vertigo) e tem grande influência do cinema americano. Neste texto ele exibe sua dor quanto ao destino do escritor Salman Rushdie, autor indiano condenado à morte pelo Aiatolá Khomeini pelo seu livro Versos Satânicos, no qual, de acordo com Khomeini, se fere a fé islâmica e se fomenta o abandono do Islã. Como mencionado por Auster, os tradutores de Rushdie sempre sofrem violências de diversos graus pelos islâmicos, fato que o torna ainda mais conhecido. Esse texto também poderia se chamar: "Escrever e traduzir, profissões perigo". 

 *A Prayer for Salman Rushdie
When I sat down to write this morning, the first thing I did was think of Salman Rushdie. I have done this every morning for almost four and a half years, and by now it is an essential part of my daily routine. I pick up my pen, and before I begin to write, I think of my fellow novelist across the ocean. I pray that he will go on living another twenty-four hours. I pray that his English protectors will eep him hidden from the people who are out to murder him - the same people who have already killed one of his translators and wounded another. Most of all, I pray that a time will come when these prayers are no longer necessary, when Salman Rushdie will be as free to walk the streets of the world as I am.