Um início

Tudo já está escrito, outro dia ouvi essa frase e me desesperei. Não há mais novidade, apenas aquela vontade de fazer algo novo, qualquer coisa que desperte a atenção preguiçosa movida a controle remoto. Não há mais genialidade, apenas repetições de coisas que já foram feitas ad nauseum. Ainda assim, escritores debruçam-se sobre  diversos temas e descobrem, desconsolados, que isso e aquilo também já foi dito, escarafunchado em algum outro livro. Teremos, em breve mesmo, mais escritores que leitores. Um mexicano disse isso, com razão. Para que tantos livros? Uma enxurrada por dia chegam às editoras, onde os senhores das letras enfastiados se refestelam em suas cadeiras de couro, decidindo qual será o próximo repeteco com ares de novidade que lançarão para encher as prateleiras das megalivrarias. E nós, pobres mortais, nos debatemos com nossa imaginação falha. A minha anda bem falha, não sei se por excesso ou falta de imagens, ideias, mensagens. Trabalho, muito trabalho. Guimarães Rosa e filosofia. Cobras. Tantos assuntos, poucos brilhos diante dos olhos, daqueles que trazem os textos em lampejos edulcorados. Estou numa fase reclamona, inconformada com o vazio. Uma sala branca sem móveis, sem cantos ou quadros, paredes frias da memória, uma luz fraquinha fluorescente batalha para me deixar enxergar a vastidão desses poucos centímetros quadrados de cérebro oco. Me vejo sentado no meio desse salão, com olhos fundos de insone. Tenho um livro nas mãos, um livro em branco, no qual busco uma palavra, uma letra, um início. 

Enquanto isso... o nada.