Página 43


Quando se morre na página 43 de um livro de duzentas páginas, naquele quinto de história que passa lentamente, uma sensação estranha toma quem lê. Putz, é um pensamento recorrente quando duas pessoas no livro se revezam ao cuidar do moribundo e selado está o destino dessas pessoas naquele momento. Se morresse na última página, talvez, esse vínculo não seria tão forte, mesmo que as personagens vivessem mais 100 anos após aquela morte. O laço estaria desfeito quando a página 200 fosse virada e o branco das duas, três páginas seguintes desse a certeza de que nada de mais impactante poderia acontecer para essas pessoas.
Mas na páginas 43 as coisas mudam de forma drástica. Nessas 43 páginas muito da vida dessas pessoas foi exposto, suas dores e temores, algumas alegrias e já sentimos que aquele moribundear faz parte do cenário. E a morte traz aquele arrepio da surpresa, por mais en passant que a notícia seja dada e por mais que a vida das personagens fosse, até aquele exato parágrafo, uma espera pela morte do doente. Quando chega a página 43, não importa como ela chegue, se instala uma tensão improvável e, em vez do alívio, recai sobre todos o pesar, a tristeza latente.
Assim, vamos nos preparar para a chegada da página 43. Talvez ela seja violenta, às vezes ela é tranquila, mas sempre haverá o despreparo para lidar com a sua vinda. Se passar da 43 e nada acontecer, agradeça ao autor da sua história de duzentas páginas e continue a espreita: ainda há 157 páginas por vir.

(Pensei em contar que romance estou lendo, mas vai que publiquem o tal no Brasil, terei estragado a surpresa da página 43.)