Ovelhas



Sinto como a todo momento Eles tosquiam nosso cérebro, impondo para nós trabalhos iníquos como castigo por tentarmos pensar como seres independentes. Arrancam nossas peles sem o menor pudor e nos dão um trapo qualquer para enxugar a tristeza lacrimosa de quando vemos nossa inteligência atrofiar entre as orelhas.
Ovelhas.
Das quais se obtém o leite e a lã, deixando secas e nuas as pobres. Há coisa menos nobre que se aproveitar de uma situação para arrancar até o último e ainda por cima, quando de qualquer mostra de não subserviência, ser tomado por rebelde e arrebatado dos pensamentos de crescimento e melhora para o chão do trabalho mecânico, despudoradamente infeliz e sonífero?
Algo mudou, de uns tempos para cá. Algo ficou mais forte e aflorado e eu acho que é a vontade de voar. As asas, tantas vezes quebradas e consertadas, ainda são fortes o suficiente para um voo longínquo, para terras e segredos distantes, nos quais não há proibição descabida, mas apenas prevenção necessária, não existem tiranos inquisidores, mas mestres orientadores e, nem tão longe daqui, sinto o cheiro desse voo. Estou prestes a me jogar, mesmo que me escangalhe, me esmigalhe nas rochas duras no fundo da montanha e tenha que escalá-la novamente, pois agora eu tenho as ferramentas, tenho o que preciso para que a minha subida seja mais suave, menos dolorida.
Depois de tantos anos, se enxerga que não era dedicação, mas apenas uma escravidão velada. Depois de tanto tempo, vejo que dar um passo a mais significa ameaça, então você não é bem-vindo. Então, amigo, dispa-se e corra em direção da felicidade... enquanto é tempo.