Hoje tem goiabada? Tem sim senhor! Hoje tem marmelada? Tem sim senhor...
E hoje tem a lembrança do rosto pintado de branco, aquela triste imagem de um rosto desmaiado, fantasmagórico. Com o lápis, o traçado forte do que se precisa mostrar, escondendo a realidade. Entre as preferências nacionais, não há mais a maquiagem alvo-rubra e a peruquinha torta no topo na careca. O chapéu e o suspensório deixaram de ser engraçados e deram lugar a grandiosos espetáculos de luzes e trapezistas pintados.
Cadê o palhaço?
Cadê os seguidores de Arrelia, Carequinha, Pururuca? Onde está o sorriso que despontava no rosto de todas as crianças com a brincadeira, a inocência e até mesmo a desgraça do palhaço choroso, pois tomou um chute na bunda? Perdidos em circos de beira de estrada ou rumando para outras gracinhas, ninguém mais enxerga o palhaço com toda a grandeza dessa personagem.
E o palhaço o que é ...?
Desempregado, triste como um pierrô sem a sua colombina, sem nada para se orgulhar e obrigado a ceder seu lugar de divertidor para um punhado de piadinhas que envolvem política ou sexo nas televisões. Engolido pela perversidade da vida moderna que não abre espaço para o singelo, simples e delicioso mundo da palhaçada, sem dubiedades ou intenções, apenas palhaço.
Lembro-me do livro O ponto de vista de um palhaço, de Heinrich Böll. A derrocada daquele palhaço é a história melancólica da vida de um artista de quem foi tomada a arte por diversos motivos. E que motivos temos para tirar a felicidade de nossos mestres da comédia de erros? Será que os palhaços ficaram ultrapassados e por isso os perdemos de vista? Perdemos aquela inocência difícil de ser reencontrada?
E o picadeiro vazio faz a bailarina chorar...