Uma das grandes perguntas da humanidade, ao lado qual o sentido da vida e da morte está aquela que muitos tentam responder, mas poucos conseguem sequer vislumbrar uma resposta média: o que é amar? Músicas, livros, pintura tentam capturar a essência desse sentimento tão sublime e tão infernal, que nos leva a paragens que nunca imaginávamos e facilmente nos tira dos eixos e, mesmo assim, ficamos satisfeitos com ele, procuramos tê-lo ao lado e nem nos atemos ao fato de que, com ele, também há a possibilidade do sofrimento, do abandono. Evitamos tudo que pode nos fazer mal, menos esse sentimento, que também nos transforma, nos anima, nos rejuvenesce.
E o cinema também faz suas tentativas, muitas felizes, outras nem tanto. Amor não rima só com dor, mas também com alegria. E no filme A Alegria de Emma (Emmas Glück, Alemanha, 2005) fica muito claro a idéia da escritora Claudia Schreiber, que escreveu o livro que deu origem a esse filme singelo, engraçado e emocionante, de que o amor está na entrega e também na abdicação do ser amado. Quem ama liberta, não nega ao outro o pedido de liberdade, de redenção.
Emma, uma mulher independente, mas caipirona, que mora no interior dos cafundós tedescos, se depara com uma situação inusitada em seu quintal: um carro capotado, um homem ferido e um pote de plástico... CHEIO DE EUROS E DÓLARES!
Após as medidas necessárias, traz o homem para dentro de sua casa, cuida dele e o ama. À sua maneira, pois sozinha vive, com seus porcos, galinhas e sua fazenda. Uma vida simples, sem luxo algum. Porém Emma tem seus segredos, como o visitante sem nome também tem os seus. Aos poucos, se enredam numa paixão imensa e daí os segredos não têm mais como se esconder...
Esse filme me emocionou muito e me deixou bastante feliz ao mesmo tempo por concluir que o amor tem seu preço e pagá-lo pode ser dolorido, mas a completude de tê-lo. Dias depois de ver A Alegria de Emma, ganhei o livro que deu origem ao filme, Emmas Glück (em alemão, viu que catiguria).
No início do livro ela mostra como é solitária num trecho que traduzo a seguir:
Ela invejava seus porcos, que lá fora, na palha fresca, premiam seus corpos um contra o outro e respiravam no mesmo ritmo. Seus dias eram deliciosamente preenchidos pelo fazer nada. Se tarde ou cedo, dia ou noite - se esparramavam, chafurdavam, comiam, coçavam as costas prazeirosamente nas cercas do jardim, deitavam um ao lado do outro, pele com pele.
Queria Emma ter um corpo, uma pele para se encostar na dela. E a sorte um dia sorri para ela... será?