Sorte?

Há uma crença popular que diz que, ao nos depararmos ou esbarrarmos em algo ruim, algo bom vem logo atrás. Meio óbvio, pois afinal, o que vem depois de tudo estar pior só pode ser melhor. A não ser que você seja atropelado por uma trupe de beduínos e seus camelos amestrados, até uma chuva torrencial é boa quando se está na merda. E sobre isso que vou falar, relatando um fato acontecido hoje comigo.
Hora do almoço, a mais esperada do dia, que perde apenas para a hora da saída. Estômagos roncam como motores de carros no grid de largada. E lá vamos nós, eu acendo o cigarro e, nada melhor na hora do almoço que um bom bate-papo, muitas vezes regado a bastante maldade para com os colegas de trabalho ausentes. Subindo a Líbero Badaró, tudo tranqüilo. Na praça do Patriarca teço um comentário bastante maldoso sobre uma menina que acaba de entrar no escritório, uma "sem-noçãozisse" dela me fez desferir-lhe um golpe de ferinidade da minha língua que até então apenas tocava a ponta do cigarro. E o castigo veio a jato literalmente.

Ploft!

Sinto como se houvessem estourado um ovo na minha cabeça. Até então tinha apenas asco de pombas, mas depois dessa ter mirado direitinho no meio da minha cabeça careca, tomei um ódio fenomenal dessas ratazanas com asas. Que pomba da paz o caralho, a próxima tiver ao meu alcance eu esfolo viva.

Um jato de bosta de pombo na cabeça pouco antes de entrar no restaurante para comer é demais. Graças aos céus a Patrícia, sempre prevenida, trazia em sua bolsa um pacotinho de lenços. Eu já estava com planos de comprar um xampu, pois o de casa havia acabado. Foi mais um motivo para comprá-lo e usá-lo após o almoço, na pia do banheiro do escritório.

É, depois disso, na volta para casa, após passar muito calor, um jantarzinho esperto com vinho especialíssimo e amigos queridos deu um ânimo novo. Mas ainda sinto o estalar da bosta pombal em minha cabeça.