Jogo de Cena

O que parece ser simples às vezes engana e muito. Jogo de Cena (Brasil, 2006) do documentarista Eduardo Coutinho mostra exatamente que a simplicidade se diferencia largamente do simplismo em sua proposta surpreendente: dentre oitenta e três mulheres que responderam a um anúncio colocado no jornal foram selecionadas vinte e três e depois da última triagem sobram oito mulheres de universos sociais e culturais distintos que abrem seu coração para uma câmera e para Coutinho. Porém, não apenas essas mulheres estão em cena: o jogo consiste em atrizes que fazem às vezes dessas mulheres e tentam, como num quebra-cabeça, completar as histórias tristes, engraçadas, tocantes e revoltantes dessas pessoas.

Como você conseguiu ficar duas horas sentado vendo um filme que se resume em câmera, uma cadeira e uma pessoa contando a própria vida?

No início do filme pensei o mesmo: cacete, vou ficar de saco cheio desse filme. Minutos depois eu não conseguia desgrudar os olhos da tela, dos relatos impressionantes delas, que abrem seu coração, como num confessionário, como para um confessionário onde elas podiam dizer tudo o que desejassem. E as atrizes tiveram, segundo elas, o grande desafio de representar não uma personagem criada por um dramaturgo, mas sim vidas reais, sem roteiro, sem linha condutora, mas emoção pura.

A perda de um filho, um parto malsucedido, o pai ausente, o filho malquisto, a vida em São Paulo (o filme tem seu foco em mulheres cariocas), o homem que trai, os laços rompidos, as músicas de antigamente, canções de ninar. De um lado esse caleidoscópio não para de girar até os últimos segundos do filme, que leva ao riso e conduz facilmente às lágrimas. De outro lado, as atrizes (con)fundem seus sentimentos com as dores e os amores dessas entrevistadas. Essa mescla faz um filme simples e belo.

Vale muito a pena.

E também vale conferir o blog oficial do filme. Clique aqui.