Tropa de Elite: agora sim, eu vi

Em 22 de novembro de 2007 escrevi aqui no Vermelho.Carne "Tropa de Elite: ainda não vi...", post que suscitou alguns comentários bastante acalorados acerca do valor do filme como instrumento de reflexão. Parti da visão daquele que não viu o filme, mas li muito sobre ele e sobre seus reflexos tão díspares, um sobre o repensar as relações tráfico-sociedade, outro de seu sucesso estrondoso pelo escândalo do vazamento do filme antes de sua estréia.
Quase dois meses depois, eu finalmente vi. Infelizmente, uma versão alternativa, pois como o Marcos do Esculacho e Simpatia, não gosto do vilipêndio piratesco tão comum hoje nas ruas de todo o país. Respeito o direito autoral e só me rendo às cópias ilícitas quando o filme não existe em lugar algum ou não saiu no Brasil. E ainda quero mudar isso comigo.
Vi e gostei. Muito. E esse filme me fez repensar meu preconceito quanto à popice (popularidade) da obra, quanto ao seu poder de incitar discussões sérias e sensatas. De qualquer forma, não arredo o pé da opinião de que o filme é bastante pop, tem um apelo popular muito forte e seu assunto atrai muito fácil a atenção de qualquer pessoa, independente de idade, condição social, intelectual ou financeira, credo, orientação sexual e afins que possam influenciar a opinião de qualquer pessoa. Tropa de Elite tem o peso de um filme de guerra (aliás, "guerra" é a palavra preferida do Capitão Nascimento, depois do bordão "Pede pra sair"), a graça de uma comédia de costumes e a ironia de quem viveu o suficiente para saber que a desgraça tem lá sua diversão. Marisa Orth disse uma vez algo do tipo: "Quando fudeu de vez, nosso trabalho de comediante começa".
E ainda é uma visão enviesada, pois o livro foi escrito por um policial (o livro que deu origem ao filme, chamado "Elite da Tropa", de André Batista e Rodrigo Pimentel, em parceria com o antropólogo Luiz Eduardo Soares) e com certeza a visão do favelado e até mesmo do criminoso não está tão presente quanto a visão de seus algozes, a polícia. Dessa forma, não dá para avançar em discussões mais consistentes de reflexo social com relação ao filme, pois não dá para ser imparcial estando de um lado do time. O diretor José Padilha conseguiu abrir um pouco essa visão, pois as cenas acabam dando rosto para a bondade e a maldade dos dois lados.
Agora, artisticamente falando, o filme é bastante bom. Atores bons e bem treinados, enredo bem costurado (como se precisasse de costura, com o mote do filme), fotografia honesta e direção competente fazem de Tropa de Elite diversão garantida, além de o filme trazer à tona muitas questões importantes: quem financia o tráfico, quem dá apoio ao caos carioca, como limpar a polícia de seus maus elementos? O sistema é cruel, já dizia Wagner "Capitão Nascimento" Moura.
Então, agora digo: Tropa de Elite vale a pena.