A água


Vejo teu corpo moreno entrando, com cuidado, nos domínios da água. Escorrendo pelo pescoço macio e ainda perfumado, livrando-se do suor indesejado da São Paulo em brasas. Ou saindo devegar do mar, no colo o reluzir das gotas que sobram com o vento da baía de Paraty, enquanto de uma cadeira meu olhar se embrenha na paisagem.
Com o jato forte do chuveiro, seus olhos se fecham, apressados, e o verde desaparece como um cardume assustadiço. A espuma que envolve nosso corpo, em brincadeiras provocantes com o sabonete, são as testemunhas da amálgama molhada que somos, que nos tornamos ao pouco sob os pingos d'água. Sorrio leve, lembrando da primeira vez que vi a água tocando seu corpo e a pele, arrepiada, que se acostumava devagar ao calor daquele tempo frio, e as volutas de vapor que preenchiam meu pequeno banheiro, brincando entre nossos corpos são as lembranças que a água me traz.
Apenas eu, você e o prazer de cada banho.