Palavras

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Pense num best seller. Agora, pense num livro pelo qual você se apaixona. Para mim esse é A menina que roubava livros, de Mark Zusak, australiano com pais alemães que contou uma história bastante divertida e emocionante nas páginas desse livro, editado aqui pela Editora Intrínseca.

Há pouco menos de um ano comprei, num dos meus arroubos literários consumitas, o livro do australiano que na época já tinha seu lugar estabelecido no mercado editorial brasileiro, livro volumoso, quase assutador com suas 499 páginas. Duas pessoas conhecidas tentaram lê-lo, mas desistiram a poucos passos do início real da história, motivos diversos tiveram elas. E eu não havia prestado atenção no livro, folheei algumas páginas e o devolvi para a estante, para a longa fila de títulos que esperam meu afago por algum tempo. No início desse ano, uma febre atacou alguns amigos que, simultaneamente, começaram a ler o livro e dar diversas opiniões. Esses, por sua vez, com exceção de uma amiga do trabalho que está bem adiantada na leitura, também pararam de ler, com diversas desculpas.

Intrigado pelo destino das palavras de Zusak, resolvi pegar o livro para ler. Acabei de ler a última página hoje, há mais ou menos 40 minutos (são 02 da manhã agora), três semanas depois de começá-lo. Conselho de amigo: apenas comece esse livro se tiver um tempinho para ler diariamente, pois ele é altamente viciante. Perdi algumas noites de sono em sua leitura e ficava agoniado para voltar ao lar e encontrá-lo na minha cabeceira, aguardando ser folheado. Já comentei sobre o preconceito contra best sellers aqui no Vermelho.Carne e agora, mais do que nunca, chego à conclusão de que não devemos nunca ter esse preconceito. O próprio Zusak assusta-se com a recepção tão calorosa de seu livro aqui no Brasil, brincou na reportagem sobre a Bienal do Livro no Rio de Janeiro, em 2007:

Estadão: Seu trabalho é bastante aclamado no Brasil. Você arriscaria uma explicação para isso?

Zusak: Ainda estou chocado. No caso de A Menina Que Roubava Livros, brinco com quem vem me dizer que o recomendou para os amigos. Eu digo: 'Sinto muito, porque imagino o amigo perguntando sobre o que é o livro e você respondendo: 'Bem, ele se passa na Alemanha Nazista, é narrado pela Morte, quase todo mundo morre... '.

(O Estado de São Paulo, 13.9.07)

Bem, eu indico e sei que não passarei vexame.

A menina que roubava livros é integralmente narrada pela Morte. Porém, não é a morte assustadora que conhecemos, a caveira com a foice na mão, nem nada disso. É uma personagem que não se descreve fisicamente (se é que há físico na morte) e que tem como característica marcante a ironia em sua função fatídica: levar as almas daqueles que passam dessa para melhor para onde elas têm que ir. Cortante como a gadanha, sua língua ferina não perdoa ninguém, apenas a pequena Liesel, uma alemãzinha que sobre com as agruras da Segunda Guerra. Escapa quatro vezes da iminente narradora do livro e, por esse feito, a Morte resolve contar sua comovente história. Em meio à evolução da Alemanha nazista, com seus paradoxos e sua crueldade, Liesel cresce com uma mania, quase uma obsessão: roubar livros. Por amar as palavras, a alemãzinha se torna perita na arte de afanar livros alheios e, auxiliada por seu amigo Rudy, aventura-se por entre os prenúncios da destruição. Ao seu lado, a Morte leva consigo aqueles que perdiam a vida em prol da conquista do famigerado Führer.

Não preciso me alongar mais para dizer por que gostei tanto do livro, não é mesmo?

Porém, não apenas o assunto Alemanha me prendeu às páginas de Zusak, mas a maneira inventiva com a qual ele concluiu a obra. Surpresas a parte, o livro pode trazer muitas gargalhadas, bem como levar às lágrimas. Um livro que indico de olhos fechados, pois é uma obra e tanto.

PS: Chorei mesmo com o livro, e daí? [risos]