São Paulo é de Aquário...

Filmes passados em São Paulo são em geral bastante surpreendentes: de um lado podem ser muito bairristas e em outro bastante cosmopolitas. Os últimos que vi e que valem a pena são Nina (2004, direção de Heitor Dhalia) e sua estética pop-expressionista e o Signo da Cidade (2007, de Carlos Alberto Ricelli). Com roteiro original de Bruna Lombardi, o filme traz a história de Teca (Bruna Lombardi), astróloga que tem um programa de rádio. Entre seus consulentes, pessoas comuns que vivem na metrópole paulistana, com suas dores e seus anseios. A busca incessante pelo caminho certo, a tentativa de subir na vida ou de encontrar a alma gêmea são entremeados pelas palavras da bela radialista. Mônica (Graziella Moretto) rouba muitas vezes a cena, com seu jeito hilário e paulistano de ser, na pele da bem-de-vida-wannabe e assistente de Teca na rádio. Gil (Malvino Salvador), o galã, muda-se para o apartamento ao lado do de Teca, trazendo o calor para a trama. Lydia (Denise Fraga) se arrisca em amores e drogas. Luís (Thiago Pinheiro), o garoto-problema, não dá um passo sem uma palavra da amiga astróloga. Aníbal (Juca de Oliveira) está a caminho da morte, mas ainda sobrevive às custas da filha radialista, tendo os cuidados dos enfermeiros Sombra (Luís Miranda) e Rafa (Marcelo Lazzaratto) (que valem quase metade do filme). Gabriel (Kim Ricelli) sofre com a mãe depressiva (Isadora Stefania). Julia (Laís Marques) chegou ao fundo do poço, mas uma mão amiga vem ao seu auxílio. Josialdo (o ótimo Sidney Santiago) quer o glamour da noite gay paulistana, porém precisa vender seu corpo para isso. Seu amigo Biô (Bethito Tavares), que vive um mundo de ilusão na noite paulistana, esconde de sua mãe (Ana Rosa, sempre competente) quem realmente é. Adélia (Eva Wilma, com aplausos) é a tia que tem um segredo guardado...
Com um ar noir, Signo da Cidade apresenta a cidade grande como um inferno na terra, onde o individualismo e a morte espreita os indivíduos a cada esquina. Assassinatos, mortes, depressão, escuridão deixam o filme um pouco cansativo. A fotografia, quase toda noturna, não tenta realçar uma beleza que São Paulo não tem, mas enfatizar seu charme e sua força pela sua luz. Os diálogos são bastante factíveis e a questão da solidão, um dos signos da nossa cidade, é colocada de forma múltipla: o abandono, o preconceito em diversas vertentes, a velhice são os temas que mais brilham sob o véu com sotaque paulistano. Com uma direção a la Altman, diversas histórias se cruzam e se chocam para mostrar o quanto a grande cidade pode ser cruel. Filme que, apesar de um pouco sufocante, perdido e inspirado demais em sucessos americanos (como Crash, Magnólia e outros) foi uma grata surpresa para mim, que não esperava muito da dobradinha Roteiro Lombardi + Direção Ricelli.
Vale a pena!
PS.: Hoje é dia de Iemanjá (Yemonjà): Odoyá, rainha do mar. Odoyá, mãe!