Recebo uma mensagem na quinta-feira, da empresa aérea, por celular. Um lembrete para a viagem do dia seguinte, que ótimo, eles se preocuparam. Chega a segunda mensagem: vôo número tal, às 22h30, chegada em Belo Horizonte 23h40. Tudo certo, obrigado operadora de viagem, batendo um bolão no atendicmento.
Sexta-feira, 20h15, após fugir de casa com um aperto no coração e driblar o Porteiro Falante, rumo para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, pelo caminho mais econômico: metrô e ônibus. Adiantado para as dez da noite, nem me preocupei em apressar as coisas. Chego no check-in da empresa às 21h00, tudo vazio. Estranho, geralmente é atribulado, como de costume na São Paulo das multidões.
- Olá, vôo para Belo Horizonte? perguntou eu, tranqüilo.
- Não há mais vôo para Belo Horizonte senhor, o último de hoje foi às 19h15 - diz a mocinha, nem tão mocinha assim.
- Não é possível, meu vôo está...
- Se o senhor quiser, vá até o balcão. Obrigada.
Dispensado pela moça, vou furioso até o balcão.
- Senhor, não há vôo aqui para Belo Horizonte.
- Mas eu recebi uma mensagem de confirmação de vocês no celular, olhe só - e saquei meu aparelho do bolso, cheio de razão.
- Sim, está certo senhor, mas o senhor está em Congonhas. Seu vôo sairá de Cumbica.
21h15. Nesse momento, desgraçadamente, todos os sinos soam na minha cabeça e eu me dou conta que minha desatenção e burrice eram proporcionais à distância que eu precisava percorrer em 30 minutos. Muitos quilômetros, pois Cumbica fica em Guarulhos que, apesar de vizinha, é outra cidade e seu acesso se dá pelas nossas marginais, conhecidas por suas centenas de quilômetros de congestionamento. Minha única saída? Um táxi:
- Rapaz, fecha quanto até Guarulhos?
- É cem real, na promoção.
- Peraí então... arruma um pra mim que eu já volto.
Corro para buscar o dinheiro em um caixa eletrônico. Rebeldes como eles só, consigo sacar o dinheiro depois da terceira tentativa em diferentes maquinetas. Após uma breve discussão entre taxistas (que são brancos e se entendem), embarco no carro do Otacílio, negro enorme e bonachão que foi bem sincero.
- Meia hora? Hum, vamos tentar...
Depois de fumar um cigarro começo a conversar com o Otacílio, para descontrair. Ele tenta me acalmar e dar alternativas, como ônibus caso desse errado, e até seu próprio táxi. Me conta que havia feito uma viagem até Florianópolis por 1.000 reais e ainda recebeu uma caixinha de 100 reais pelo horário cumprido: São Paulo - Floripa em 7 horas. De posse dessa informação, aquele filho de Xangô me deixaria lá em 30 exatos minutos. Ou não:
- Já ligue pra rodoviária e reserve sua passagem. Se precisar, te levo de volta.
Mentalmente agradeço Otacílio pela "força" e mantenho a calma. Em seguida ele me dá um cartão e diz "Se precisar, ligue e eu te levo pra rodoviária". Acho ótimo e já me começo a me preparar mentalmente para voltar ao Terminal do Tietê, enlouquecer atrás de uma passagem para a meia-noite e encarar oito horas de viagem, chegar em BH de manhãzinha e não aproveitar tanto quanto poderia.
21h59 e os portões de embarque já haviam sido anunciados. Era o ultimado da companhia aérea. Todos os passageiros já na sala de embarque, menos um.
- Otacílio, fique com Deus, volte bem e obrigado pela força.
- Boa viagem e, se precisar, tem meu cartão.
Corro para o balcão da empresa, esbaforido e olho suplicante para a moça (que agora é mesmo mocinha) e digo o meu destino. Ela torce o nariz e eu gelo, minhas mãos suam e eu quase tenho um troço.
- Pronto senhor, aqui está seu cartão de embarque, plataforma 19, depois da livraria.
Solto um suspiro aliviado quando percebo que torcer o nariz é apenas um pequeno e charmoso tique nervoso da moça atendente. Ao entrar na sala de embarque, a fila já está a postos, só há tempo para um pão de queijo...
Que nada, pensei. Quer saber, vou comer meu pãozinho de queijo na fonte. Depois que escrever essa pequena aventura. Beagá, lá vou eu!