Infância, do autor russo Maksim Górki (1868-1936), escrito entre 1913 e 1914, é o início de sua trilogia autobiográfica, ao qual seguem Ganhando meu pão e Minhas Universidades. O primeiro volume dessa pequena obra fechada em si traz reminiscências ricas em detalhes do próprio autor na Rússia do século XIX; após a perda do pai, evento que inicia o romance com grande impacto, e o surgimento de uma até então desconhecida avó são abertas ao menino Aleksei as portas de um mundo novo. A descoberta de uma nova família, o sofrimento dos mujiques e dos empregados, a ganância que vilipendia as relações humanas e os laços fortes que se constituem durante a vida são apresentados, em imagens de cores infinitas e nuanças múltiplas.
Diferente das obras da fase revolucionária, a autobiografia de Górki (que em russo significa "Amargo") exibe de forma clara, sem rodeios, a vida que o pequeno Aleksei sofreu: não conheceu brinquedos, nem garotos de sua idade. Cercado de adultos impregnados de ódio e da ânsia pelo dinheiro. Começou tarde os estudos e não gostava nada da escola, pois era preterido por não ser um pequeno burguês. Apesar de todo o sofrimento (inclusive as fortes sessões de espancamento praticadas por seu avô), Górki toma, entre a infância e começo da adolescência, o gosto pelas histórias, fantásticas pelo lado da sua querida avó, reais pelo lado de seu severo avô. A morte também foi uma constante na vida do garoto, que presenciou de perto a Gadanha desfiar almas ao longo do rio Volga.
Na bela tradução de Bóris Schnaiderman, a caixa Górki, da Ed. Cosac Naify, vale a pena. Pela arte de suas capas, uma festa para os sentidos, pelas fotos que acompanham o início dos textos e ambientam a aventura entre samovares e muita neve.