Depois de dez dias fora de São Paulo tudo muda. As pessoas ficam diferentes, bem diferentes. A poluição fica patente, uma enormidade. A enxurrada de gente começa a ficar incômoda, até triste. Mas a Paulista, por fim, ficou pronta, isso já é um alento. Tava uma zona que só. E está frio, muito frio, já estava desacostumado. Mas já estou voltando ao ritmo, não tão devagar e sempre.
Mas o que mais me deixa feliz no retorno é saber que a querida metrópole não perdeu sua loucura, sua insanidade sadia.
"Aceita un mamón, señor", essa foi a frase: estava eu e Júlio, do Deletrando, na avenida Paulista quando fomos abordados por um rapaz todo de branco, cabelos cortados à hare krishna, carinha de chileno e portunhol afiado. "Aceita un mamón, no paga nada, solo aceita". Com cara de paisagem e mamão na mão, olhei para o rapaz com uma imensa interrogação enterrada na cabeça. Eis que veio a confirmação da loucura: "pôdji me dar um abraço?". Com cara maior de espanto ainda abri os braços e, com o mamão na mão saí para um lado, ele para o outro. Eu para seguir meu caminho, munido com meu papaya verde e ele para uma caixa cheia de mamões. Ao redor da caixa pessoas com máquinas fotográficas, provavelmente para registrar as caras de idiota das pessoas quando recebem um mamão numa noite fria, como a minha ficou.
Já tinha visto as performances do abraço, do beijo e afins. Logo teremos gente pelas ruas de São Paulo com placas do tipo "Plante uma bananeira comigo" ou "Dance a polca ao meu lado pela paz no mundo". Por mais que me irrite, eu ainda adoro essa cidade.