Há um tempo o Tiago me apresentou o prazer de ler quadrinhos, apesar de eu gostar desde pequeno de X-men e afins. Quadrinhos adultos se tornaram os refrescos (ou não) entre um romance e outro que leio; Persépolis, de Marjane Satrapi, Maus, de Art Spiegelman e outros livros me encantaram pelos recursos não disponíveis nos romances: as imagens representando o texto e o texto refletindo as imagens, o que torna a leitura bem interessante. Acabei o livro Fun Home, de Alison Bechdel (Ed. Conrad, Trad. de André Conti, trecho no link). Há três pontos muito fortes no livro: primeiro, é uma história verídica, da própria Alison, um relato autobiográfico contando sua infância, adolescência, descoberta do mundo lésbico e saída do armário; segundo, é um livro sobre o duplo, essa entidade tão comum e necessária na literatura e na vida: yang/yin, dia/noite, feio/belo. Mas esse duplo, que com certeza foi traumático para a autora, a fez criar uma obra em quadrinhos delicada e inteligente, com uma ironia que beira o escárnio de sua relação conturbada com o pai. Terceiro, a riqueza de detalhes de seus quadrinhos impressiona (foi comparada a Robert Crumb pelo The New York Times Book Review), aliada e a um diálogo constante com diversos autores consagrados, como Camus, Proust e Joyce. Me instigou de verdade a ler mais desses autores e aumentou minha fome pelos quadrinhos. Vale a pena!
Imagem da capa: slashpages.wordpress.com