Sobre livros e ausência

Caríssimos,

Enquanto estou nessa fase de loucuras, com preparação de viagem e livro sendo traduzido, não consigo produzir muito, apenas o necessário para dizer que estou com bastante saudades de todos os blogueiros amigos, sinto falta de passar e comentar em seus blogues e não o faço por um motivo simples: tempo em falta. E também minha produção livre rareou, pois estou num momento de alimentação: tenho lido bastante nos poucos momentos de folga e sobre isso consigo escrever de vez em quando, para não deixar o VC morrer na praia, né? Então, abaixo, os comentários dos últimos dois livros que li nesse dias sem aparecer por aqui: 

O sol se põe em São Paulo, de Bernardo Carvalho (Cia. das Letras), é o tipo de livro que surpreende. Não apenas por ser escrito por um carioca, descrevendo tão bem a capital paulistana, mas de um ocidental desentranhando as dores dos orientais vindos para o Brasil em outros tempos. É a história de um intelectual frustrado, que na verdade almejava ser escritor e por azar torna-se redator publicitário e não consegue dar vazão ao seu sonho. Um belo dia ele recebe um pedido misterioso: registrar as memórias de uma senhora japonesa, dono do restaurante que frequentava na Liberdade. Daí para frente, uma montanha russa se instala na vida do rapaz, que cruza o mundo a procura da história da senhora e da sua própria história. 


A casa de papel, de Carlos María Domínguez (Ed. Francis, Trad.: Maria Paula Gurgel Ribeiro) consegue emocionar aqueles que amam e vivem com os livros. Conta a história de um professor universitário que, prestes a assumir o posto de uma colega que sofre um acidente fatal, recebe um livro um tanto inusitado, não pelo texto em si (A linha da sombra, de Joseph Conrad), mas por estar bastante maltratado. O narrador sai em busca do remetente daquele livro e durante sua viagem faz considerações sobre o ato de ler, o cuidado com os livros e a vida de quem se dedica à literatura. É uma grande reflexão sobre o amor pelos livros e como a vida influi na literatura e, em igual ou mair rescala, a literatura influencia a vida. Sensível, A casa de papel levanta a questão de como as pessoas conseguem viver longe do prazer da leitura. Com minhas ressalvas à tradução, o livrinho de 98 páginas vale a pena.