Sabonete


Quando olhei o sabonete sobre a saboneteira, ainda com espuma fresca e suado, percebi a extensão da intimidade. O sabonete encerra tantos significados que não cabem naquele pequeno pedaço cremoso. Mesmo sozinho. Mesmo na solidão de um banho, consigo rastrear essa proximidade insana, que escorreu pelo corpo do outro e que em meu corpo agora escorre. O cansaço de um dia, o desejo, usos e abusos de um sabonete que testemunha momentos de sonho, choro, gozo. Não consigo pensar em algo mais íntimo, assim, olhando para o sabonete sobre a saboneteira, com seu baixo-relevo já apagado, gasto na prova de que já percorreu mãos, dobras, vãos e peles, alheio ao vapor do chuveiro morno.