Livros: arte comercial ou comércio artístico?

Na semana passada, o Brontops, dos Escritores de Segunda (grupo no qual estou tentando seriamente participar, mas o tempo tem me pregado peças), mandou uma mensagem para o grupo sobre um texto que leu no blogue português De Rerum Mundi discutindo a prática da destruição de livros quando não consumidos para de certa forma aliviar os estoques das livrarias e distribuidoras. O autor do texto clama que esse é um verdadeiro absurdo, guiado pelo capitalismo e coisa que o valha. 
Agora: que fazer com a falta de espaço? Afinal, livros são objetos que ocupam um espaço considerável em prateleiras e seu encalhe pode gerar prejuízos, indesejáveis a um setor que tem um lucro, no Brasil, ainda prejudicado, pois o trabalho é muito e o retorno não tão grande, ou insuficiente para o tipo de trabalho que se faz. Comecei minha ainda breve carreira nas Letras atrás do balcão, ou melhor, de uma mesa da área de compras de uma grande livraria e pude presenciar negociações das mais ferrenhas quanto ao preço de capa, consignação etc. Então, que fazer com os livros, se com a crise as vendas caíram. A colega lusitana, que como eu vê o livro como gênero de primeira necessidade (e concordei com alguém que certa vez disse que deveria ser um dos itens da cesta básica), atém-se à visão romântica do mercado livreiro: obras de arte que não podem ser destruídas sem que se atente contra o patrimônio da humanidade
Nos comentários desse blogue diversas questões vieram à tona: desde a lebre levantada de "boa" ou "má" literatura, até mesquinharias e pequenezas. E não se chega a nenhum consenso, pois essa não é uma questão tão nova e acontece há muito. E há uma revolução acontecendo, com os audiobooks e os kindles da vida que vêm transformar a indústria do livro, para o bem ou para o mal (no Estadão desse domingo há um vislumbre do caos ou do paraíso). Ou seja, há discussões ainda mais pertinentes e às quais se deve mais fervor. Não que ela não tenha valor, pois também não quero no futuro meus livros no fundo de um estoque mofando nem sendo reciclados para se transformar em papel higiênico ou coisa que o valha. Mas o "fazer literário", diante de todas essas mudanças da modernidade, merece ainda mais e mais pensares. Que se doem os livros encalhados, que se vendam em saldões por aí, as soluções estão aí para ser tomadas e sugeridas. Com certeza, serão felizes os beneficiários desse belo descarte.