Rebeldia húngara

Acabo de ler Rebeldes (Cia. das Letras, Trad. Paulo Schiller), de Sándor Márai (1900-1989), um dos poucos livros do autor húngaro traduzido direto do idioma original. Pode parecer frescura de tradutor, mas quem tem como ofício ou já se envolveu de alguma forma com ele sabe que tradução de tradução em geral dá problema, a não ser que a tradução tenha sido feita pelo autor ou sob a supervisão dele. Me interessei pelo autor ao ler uma entrevista da Fanny Abramovich no blog do Marcelo Maluf, no qual ela dizia ter lido As brasas, um dos livros mais famosos de Márai (mas traduzido a partir de uma versão italiana). Talvez um dia me aventure nele. 
Rebeldes tem como pano de fundo uma Hungria invadida pelos fantasmas da Primeira Grande Guerra, onde a ida para o front quase não se apresenta como opção, mas como obrigação para os húngaros da época. Márai consegue montar esse cenário com maestria, inclusive com os costumes e a decadência burguesa atrelada à guerra, como vi apenas feito por Thomas Mann em Os Budenbrooks (Nova Fronteira, Trad. de Herbert Caro), no qual a história da decadência da sociedade reflete-se diretamente na decadência da família Budenbrook. Também há um retrato da juventude, mas não a daquela época, mas uma juventude universal: período de descobertas e aventuras, sempre na contramão. No livro, quatro jovens (e mais um não tão jovem que se junta ao grupo) ingressam na adolescência e montam o que chamam de "bando", com a rebeldia característica dos jovens, ditando suas próprias regras e encarando os adultos como algozes. Tentam a todo o momento provar sua bravura e suas qualidades perante o grupo que muitas vezes contradizem os ditames sociais. A descoberta do erotismo, do amor e da amizade são concorrentes a outros achados menos nobres, como a traição, a inveja e a maldade. Bom livro, ótima tradução: eu recomendo!