Mulheres de louça



Acabo de ler o pequeno livro Matriuska (Ed. Iluminuras) de Sydnei Rocha. E antes de lê-lo, já havia ouvido falar dele. E antes disso, já havia visto e até conversado com o autor numa mesa de café. E, ainda, o vi numa entrevista num sábado e no domingo o encontrei pessoalmente na Balada Literária. E daí tive a confirmação de quem era o autor da Matriuska, aquele cearense que um dia havia encontrado numa livraria com Marcelino Freire e com eles tomado um café. É um livro sobre mulheres, sem vitimização ou demonização do sexo feminino, mas trazendo realidades das mais duras de mulheres reais, de carne e osso e ventre, enfrentando com coragem novas e velhas realidades, com seus sonhos rotos e aspirações úmidas. Contos curtíssimos, de duas ou poucas páginas a mais, com títulos intrigantes (matriuska, déjà vú, googlemap, twitter, : [é, são dois pontos]) trazem pequenos universos explorados com a lente microscópica de Sydnei, num trabalho de experimentação, artesania do sentido e das sensações. São diversas influências que pululam nas páginas, mas o que mais conta é a ousadia de Sidney quanto as frases secas, cortantes, imediatas. Não há lenga-lenga, blablablá, apenas aquela coisa trevisanesca, joyceana, uma espiral de palavras no qual não dá para entrar e sair ileso. Como a boneca russa que dá nome ao livro, uma sequência de mulheres diferentes, mas iguais. Piração, pode apostar. Além disso, o trabalho gráfico é de primeira. Então, para fechar, a velha frase: vale a pena!