Pornografia sem rodeios


Dificilmente eu leio um livro numa tacada só e foi o que aconteceu ontem com Sade em Sodoma, de Flávio Braga (Ed. Best Seller - Col. Placere, 164 p.), apesar de o livro ser bastante pesado e ter feito com que eu parasse e respirasse fundo antes de encarar o próximo capítulo. Aliás, um dos trunfos do livro são os capítulos curtos, de duas, três páginas no máximo, o que torna todas as descrições pornográficas, escatológicas e sádicas mais palatáveis. Acredito que todos os livros da coleção sejam assim, como também são todos inspirados em autores da literatura erótica e/ou pornográfica universal, como Boccacio, Masoch, Petrônio, Casanova e outros.

O autor inicia o livro com uma brevíssima apresentação do marquês de Sade, um dos ícones da pornografia universal e autor de 120 Dias de Sodoma ou A Escola da Libertinagem. Porém, marquês de Sade será apenas o interlocutor dos narradores dos 120 de uma orgia libertina: Mathieu, o assassino que se torna o cão de guarda dos chamados "amigos" (os libertinos mais terríveis da época) e madame Duclos, prostituta que iniciou Mathieu na vida de prostituição e perversidade. O início do livro dá um sabor de humildade ao personagem de Mathieu que rápido desaparece, fazendo com que se forme na nossa cabeça uma verdadeira imagem do rapaz: violento, vil, com pouca hombridade, perfeito para os objetivos dos libertinos. Ele conta o que presenciou nos 120 dias do grande evento de sua vida, a orgia de quatro meses que o marquês de Sade descreveria mais tarde em seu livro. Flávio Braga não se engasga ao desfiar um rosário de putarias das mais perversas, escatologias e atos de mutilação que ultrapassam o insano; contudo, esses atos são bem alinhavados com um bom texto, rápido e inteligente, que por vezes fica cansativo, o que o próprio narrador confessa em diversos trechos, demonstrando que putaria é putaria, só muda o cenário. E os buracos (naturais ou feitos artificialmente). Agora vou procurar os outros da coleção, pois esse valeu a pena.