Queima devagar

De tempos em tempos desenvolvo uma fixação por alguns autores e me dedico a eles durante algum tempo com mais ou menos afinco. Fernando Sabino, Jorge Amado, Thomas Mann, Milan Kundera foram alguns deles e o último, Sándor Márai, me conquistou com sua prosa elegante e seus temas bastante inquietantes. Depois da leitura de Rebeldes, entre um e outro livro começado, resolvi ler uma das obras mais conhecidas de Márai: As brasas (Cia. das Letras, tradução da versão italiana de Rosa Freire d'Aguiar). Gostei bastante desse livro renegado pelo autor (ele o considerava muito romântico), tanto pela sua história como pela escrita, de uma fluidez deliciosa. As brasas tem como tema a amizade, a honra e a verdade. A amizade de Henrik e Konrad, o primeiro um jovem rico e de futuro promissor e o segundo, sem a mesma "sorte", é descrita tendo como pano de fundo o bem-descrito Império Austro-Húngaro do início do século XX, e essa relação entre os dois jovens deixa marcas inesquecíveis. Depois de quarenta e um anos desaparecido, Konrad resolve visitar Henrik e tem início uma instigante lavagem de roupa suja entre amigos. Henrik interroga Konrad por seu desparecimento após um acontecimento fatídico e por todo o rastro que ele deixou na vida do amigo após seu sumiço, dissecando tão profundamente a amizade e os sentimentos que quase não sobra espaço (ou motivo) para o amigo se manifestar. 
No fim do livro há um pequeno ensaio da tradutora para o italiano, Marinella d'Alessandro, contando um pouco da vida de Márai e da inspiração autobigráfica da qual o autor sempre lança mão em suas obras. A próxima leitura máraiana? Confissões de um burguês.
Aliás, uma curiosidade: Márai escreveu um texto sobre Canudos (Veredicto em Canudos), uma de nossas guerras que mais impressionou os estrangeiros, talvez pela sua improbabilidade. Sándor Márai (até o momento) vale a pena!